Farta de Mim Mesma, a comédia negra norueguesa que John Waters aprovou

O filme de Kristoffer Borgli com Kristine Kujath Thorp passou em Cannes e no IndieLisboa e agora estreia-se, esta quinta-feira, no Filmin, o serviço de streaming.

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Signe (Kristine Kujath Thorp) e Lidexol, a droga que toma para fomentar o seu narcisismo DR
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Thomas (Eirik Sæther) e Signe, o "par de amantes noruegueses narcisistas" que "não consegue parar de competir pela atenção do público" DR
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Todos os anos, o lendário John Waters, o papa do lixo, como gosta que se refiram a ele, faz uma lista dos melhores filmes do ano para a revista de arte contemporânea Artforum. O quarto classificado do ano passado foi Farta de Mim Mesma, o filme norueguês de Kristoffer Borgli, que foi mostrado em Cannes em 2022 e, após uma passagem pela edição mais recente do IndieLisboa, se estreia cá via streaming através do Filmin esta quinta-feira. Waters, o realizador que pôs Divine a competir pelo título de pessoa mais nojenta do mundo em Pink Flamingos, disse que era um filme "fodido dos cornos" e que, apesar de não ser Female Trouble (uma referência a um filme seu em que uma adolescente tenta equivaler crime a beleza), é "tão louco".

É uma óptima recomendação, vinda de alguém que sabe bem o que é extravasar os limites do bom gosto ou do que se pode fazer no cinema. Farta de Mim Mesmo, uma comédia negra (não no sentido redutor e preguiçoso que infelizmente muitas vezes se dá ao termo, especialmente quando associado a stand-up) com um pouco de body horror desenrolada no mundo real, sem exageros e sobrenatural, centra-se em Signe (Kristine Kujath Thorp​), que trabalha num café em Oslo e está numa relação pouco saudável com Thomas (Eirik Sæther), que é, como é na vida real o actor que faz dele, artista.

Um dia, no trabalho, uma mulher é atacada por um cão e ela ajuda-a. Signe gosta da atenção que estar coberta de sangue lhe dá e decide tentar também ser atacada. Entretanto, a arte de Thomas, que envolve roubar mobília, começa a ganhar alguma notoriedade. Com ciúmes e a sentir-se solitária, Signe decide pedir ao seu traficante de droga para mandar vir, da dark web, Lidexol, um medicamento russo para a ansiedade. Tudo porque viu numa notícia que Lidexol provoca problemas de pele a quem o toma – o marketing do filme criou um site e contas nas redes sociais para esta droga fictícia. Signe quer ser uma vítima, e consegue-o, indo cada vez mais fundo, sem medo de exagerar o que se passa com ela. Pelo meio, vai surgindo a fama, uma entrada no mundo da publicidade e da moda, e os olhos em cima dela que a personagem tanto queria.

Waters resume o casal como "um par de amantes noruegueses narcisistas" que "não consegue parar de competir pela atenção do público". É esta a premissa da segunda longa-metragem de Borgli, que se estreou em 2017 com Drib e tem no currículo objectos como a curta de falso documentário Whateverest, a partir do tema Inspector Morse do produtor Todd Terje. Tal como em Drib, explora aqui o mundo da publicidade, no qual tem tido algum trabalho ao longo dos anos. É um olhar satírico para personagens terríveis e uma obsessão com fama, celebridades e vontade de vitimização. Tem gerado muita atenção sobre Borgli, que já acabou a rodagem do seu próximo filme, uma comédia em inglês para a A24 co-produzida por Ari Aster e com Nicolas Cage como protagonista.

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