Orcas danificam mais uma embarcação. Há dezenas de ataques por ano em Portugal e Espanha

Incidente com orcas no sul da Espanha soma-se a tantos outros registados desde 2020. Cientistas suspeitam que o novo comportamento animal resulte de uma partilha de informação entre as orcas ibéricas.

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A espécie Orcinus orca integra a família dos golfinhos, apesar de as orcas serem erroneamente chamadas de baleias assassinas Mike Doherty/DR

Um grupo de orcas ibéricas danificou substancialmente um veleiro na costa sul da Espanha, informou o serviço local de resgate marítimo esta quinta-feira. Este episódio vem somar-se a dezenas de ataques de orcas a embarcações registados este ano nas costas de Espanha e de Portugal.

Nas primeiras horas da quinta-feira, um grupo de orcas quebrou o leme e perfurou o casco depois de colidir com Mustique, uma embarcação com bandeira britânica a caminho de Gibraltar. O embate levou a tripulação, composta por quatro pessoas, a entrar em contacto com as autoridades espanholas para obter ajuda, referiu um porta-voz do serviço de resgate marítimo.

O serviço disponibilizou não só uma lancha de resposta rápida, mas também um helicóptero munido de uma bomba para remover a água do porão da embarcação de 20 metros. O Mustique foi rebocado para reparação no porto de Barbate, na província de Cádis, na Espanha.

Imagens partilhadas por April Boyes na rede social Instagram, divulgadas pela agência Reuters April Boyes
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Imagens partilhadas por April Boyes na rede social Instagram, divulgadas pela agência Reuters April Boyes

De acordo com o Grupo de Trabalho Orca Atlântica (GTOA), que rastreia as populações da subespécie de orca ibérica, este incidente vem somar-se a vários outros ocorridos este mês. Só em Maio, foram registadas pelo menos 20 interacções entre pequenas embarcações e estes cetáceos no estreito de Gibraltar. Ao longo de 2022, houve 207 interacções comunicadas, indicam os dados do GTOA.

No início de Maio, o veleiro Alboran Champagne sofreu um impacto semelhante de três orcas a meia milha náutica de Barbate. O navio não pôde ser rebocado porque ficou completamente inundado e teve de ser deixado à deriva, acabando por afundar.

As orientações do Ministério dos Transportes da Espanha estipulam que sempre que os navios observarem qualquer alteração no comportamento das orcas – como mudanças bruscas de direcção ou velocidade – devem deixar a área o mais rapidamente possível.

O objectivo é evitar provocar, ou agravar, o stress animal durante as manobras. Toda a interacção entre um navio e uma orca deve ser relatada às autoridades, acrescentou o ministério.

Orcas não são baleias

Embora sejam conhecidas como “baleias assassinas”, as orcas não são baleias. A espécie Orcinus orca integra a família dos golfinhos. Estes animais ameaçados de extinção podem medir até oito metros e pesar até seis toneladas quando adultos.

Como diferentes embarcações já foram atacadas (e até afundadas) desde Maio de 2020, quando uma orca fêmea sofreu uma interacção muito violenta com um barco, há cientistas que aventam a hipótese de essa experiência traumática poder estar na origem de um novo comportamento animal.

Tripulantes que testemunharam interacções com orcas relatam que estes animais mordem, vergam e, por vezes, acabam por partir os lemes das embarcações. Daí emergir a hipótese de que haveria um padrão de imitação no comportamento destes cetáceos ibéricos.

“Este comportamento provavelmente começou com orcas individuais, mas parece espalhar-se através da aprendizagem social. Recentemente, publicámos um artigo científico sobre um comportamento semelhante em golfinhos-roaz, nos quais identificámos um indivíduo que promoveu um andar diferente com a cauda, comportamento que foi adquirido durante um período temporário de cativeiro”, explica à plataforma The Conversation o biólogo Luke Rendell, da Universidade de Saint Andrews, na Escócia.

Não é possível, contudo, determinar a razão específica pela qual as orcas ibéricas estão a reproduzir este comportamento. “É muito difícil afirmar com certeza qual será o motivo exacto, mas sabemos que o comportamento se espalhou pelo grupo. E é também difícil explicar essa dinâmica sem invocar algum tipo de aprendizagem social, ou seja, a disseminação de informações entre as orcas”, refere o investigador escocês à mesma fonte.

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