Economia alemã entra em recessão

Quebra do consumo não é compensada pelo investimento mais forte nem pela retoma industrial e arrasta maior economia europeia para um segundo trimestre consecutivo com quebra no PIB, desta vez de 0,3%.

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Olaf Scholz, actual chanceler alemão, vê o país entrar em recessão técnica, depois de corrigido o valor do PIB para o primeiro trimestre de 2023 Reuters/KAI PFAFFENBACH
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Afinal, a principal economia da União Europeia não escapou à recessão. Corrigindo a primeira estimativa, avançada a 28 de Abril, para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), a autoridade estatística Destatis anunciou nesta quinta-feira que o PIB da Alemanha se contraiu 0,3% no primeiro trimestre de 2023.

A economia germânica tinha fechado o ano de 2022 com uma variação negativa de 0,5% no quarto trimestre e, assim, começou o ano de 2023 a somar o segundo trimestre consecutivo em que o PIB escorrega. A recessão é caracterizada pelo recuo no PIB em dois trimestres consecutivos. Numa base homóloga, o PIB recuou 0,5% face ao primeiro trimestre de 2022, a preços constantes e ajustado a efeitos de calendário.

Entre Janeiro e Março deste ano, os alemães lidaram com a inflação cortando na despesa, que desceu tanto no sector público como privado, e viraram-se mais para o investimento, que contrariou um fraco segundo semestre de 2022 e voltou a crescer, de forma significativa até em alguns sectores.

Segundo os dados definitivos, a quebra de 0,3% no PIB no primeiro trimestre ocorre sobretudo pela quebra do consumo privado (-1,2%) e do consumo público (-4,9%), que recuaram devido à persistência de preços elevados.

Em sentido contrário, o investimento aumentou de forma notória: a formação bruta de capital fixo na construção subiu 3,9% e na maquinaria e equipamento aumentou 3,2%, face ao trimestre anterior.

A braços com o impacto da guerra na Ucrânia, as famílias alemãs cortaram na comida e bebida, na roupa e no calçado, o que não é boa notícia para estes sectores em Portugal, já que a Alemanha é um dos principais clientes tanto do calçado como da indústria têxtil e vestuário portugueses.

Também a compra de carro novo registou uma quebra, o que se pode ficar a dever ao fim do apoio público à compra de veículos híbridos plug-in e à redução do apoio público à compra de carros eléctricos.

Estes resultados significam que nem um Inverno menos frio, que ajudou o país a lidar melhor com eventuais problemas de energia, nem a reabertura da economia chinesa, que levou a um incremento na actividade industrial, foram suficientes para tirar a maior economia europeia da zona de perigo, apontam analistas que acompanham a economia alemã.

“Esta é a factura do aumento substancial dos preços da energia durante o Inverno”, comentou Jörg Krämer, economista-chefe do segundo maior banco comercial na Alemanha, o Commerzbank.

Em termos de trocas comerciais, as exportações alemãs subiram 0,4% no primeiro trimestre, ao passo que as importações recuaram 0,9%. A inflação até tinha recuado 0,2 pontos percentuais em Abril (de 7,4% em Março para 7,2%), mas o preço da alimentação continua anormalmente alto, com mais do dobro da inflação.

O banco central alemão projectou um crescimento modesto para o segundo trimestre, acreditando que a actividade industrial poderá compensar a estagnação do consumo privado e um eventual recuo na construção. Na quarta-feira, foi divulgado que o indicador de clima económico estava em queda.

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