Haruki Murakami é o Prémio Princesa das Astúrias das Letras 2023

O escritor japonês, eterno candidato ao Nobel da Literatura, sucede ao dramaturgo espanhol Juan Mayorga.

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O júri destacou o alcance universal da obra de Haruki Murakami e sua capacidade de conciliar a tradição japonesa e o legado da cultura ocidental Petr Josek Snr
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Haruki Murakami, o mais célebre escritor japonês contemporâneo, eterno candidato ao Prémio Nobel, é vencedor do Prémio Princesa das Astúrias das Letras de 2023. O autor de Kafka à Beira Mar ou Norwegian Wood sucede ao dramaturgo espanhol Juan Mayorga na lista de vencedores, no campo da literatura, dos prestigiados prémios espanhóis, que distinguem o “trabalho científico, técnico, cultural, social e humanitário” desenvolvido internacionalmente por pessoas ou instituições. Além de uma escultura de Juan Miró (1893-1983), criada especificamente para os prémios, são atribuídos ao vencedor 50 mil euros.

Anunciada na manhã desta quarta-feira, a escolha de Murakami é justificada pela “singularidade da sua literatura, o seu alcance universal e a capacidade de conciliar a tradição japonesa e o legado da cultura ocidental numa narrativa ambiciosa e inovadora”, lê-se numa minuta emitida pelo júri do prémio, reunido em Oviedo. Nela, é destacada ainda a forma como, através das suas narrativas, o escritor tem conseguido dar conta de alguns dos “grandes temas e conflitos do nosso tempo: solidão, insegurança existencial, terrorismo e desumanização nas grandes cidades”.

O jurados classificam-no como “um dos maiores corredores de fundo da literatura contemporânea”, elogio que alude ao seu grande interesse pelo atletismo – desde 1983 que corre anualmente uma maratona e dedicou à corrida um livro, Auto-Retrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo, traduzido em Portugal, em 2009, pela sua editora portuguesa, a Casa das Letras.

Nascido em Quioto em 1949, filho de dois professores de literatura japonesa, Haruki Murakami gravitou inicialmente para uma das suas grandes paixões, a música. Entre 1974 e 1981, geriu com a mulher um bar de jazz, o Peter Cat. Influenciado pelos grandes escritores russos do século XIX, como Dostoiévski, mas também, de forma determinante, por americanos como Raymond Carver, John Irving ou F. Scott Fitzgerald, dos quais assinou traduções japonesas, publicaria o seu primeiro romance, Ouve a Canção do Vento, em 1979. Dois anos depois, decide dedicar-se por inteiro à escrita. A sua ambição enquanto romancista, então como agora, passava por juntar Dostoiévski a Chandler, como confessava em 2004 à The Paris Review.

“No início da minha carreira de escritor, ocorreu-me que podia construir frases como se tocasse um instrumento e essa ideia não se alterou até hoje. Enquanto carrego nas teclas do teclado do computador, imponho-me um ritmo definido, esforço-me por encontrar um som e uma ressonância adequados”, escreve em Romancista Enquanto Vocação, citado no El País.

O diário espanhol traça o retrato de um escritor “esquivo, pouco amigo de festivais ou entrevistas, mas com surtos de sociabilidade tão chocantes quanto estranhos”. Referea sua inesperada primeira visita a Espanha, quando decidiu comparecer aos Prémios San Clemente, organizados por um instituto galego, em Santiago de Compostela, onde havia sido distinguido por um júri composto por alunos locais.

Foi com Norwegian Wood, publicado no Japão em 1987, que se tornou uma figura destacada da literatura do seu país, tendo-se seguindo, na década de 1990, o reconhecimento internacional. Sputnik, Meu Amor (1999), Kafka à Beira-Mar (2002) ou 1Q84 (2009) são algumas das obras que lhe garantiram um estatuto global e uma devoção, por parte dos seus leitores, que alguns assemelham à idolatria reservada a figuras da pop. Em Abril foi publicado no Japão o seu romance mais recente, Machi to sono futashika na kabe (A Cidade e as suas Muralhas Incertas).

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