Alterações climáticas ameaçam mexilhões de água doce ibéricos

Investigadores sublinham que o declínio populacional de uma espécie, como o previsto por este estudo, pode ter “efeitos em cascata em todo o ecossistema e até na saúde humana”.

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O mexilhão de água doce Potomida littoralis GettyImages,GettyImages

As alterações climáticas podem levar à extinção, nas próximas décadas, dos mexilhões de água doce da Península Ibérica, segundo um estudo coordenado pela Universidade do Minho (UM) divulgado esta segunda-feira.

Em comunicado, a UM refere que o alerta é deixado num artigo científico coordenado por Janine P. da Silva e Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências daquela academia, e de Ana Filipa Filipe, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia.

A investigação revela que espécies de bivalves nativas e com distribuição geográfica restrita enfrentam um risco acrescido, dada a drástica diminuição de condições climáticas necessárias à sua sobrevivência prevista para as próximas décadas. "Algumas destas espécies são endémicas da Península Ibérica e o seu desaparecimento empobrece a biodiversidade global", avançam os investigadores.

"As espécies Margaritifera margaritífera e Unio tumidiformis são as mais preocupantes, sendo expectável a sua extinção global já em 2050", referem os autores do estudo. Mesmo espécies amplamente distribuídas na Península, como Potomida littoralis e Unio delphinus, deverão experienciar declínios significativos na sua área de distribuição, com extinções locais em diversas regiões, que podem torná-las ameaçadas e reduzir a sua variabilidade genética.

O comunicado explica ainda que certas espécies de peixes nativos servem como hospedeiras daqueles bivalves no estádio inicial do seu ciclo de vida, um processo "essencial" à colonização de novas áreas.

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O mexilhão-de-rio, de nome científico Margaritifera margaritifera DR

Diz também que as barreiras à dispersão destes animais para habitats adequados no futuro são também motivo de preocupação. "Os rios ibéricos encontram-se altamente fragmentados, nomeadamente por barragens e outros obstáculos, que impedem a livre movimentação dos peixes ao longo da rede hídrica e, consequentemente, dos bivalves", alertam os cientistas.

Janine Silva nota que declínios populacionais como os previstos por este estudo podem ter "efeitos em cascata em todo o ecossistema e até na saúde humana". Segundo a investigadora, acções de conservação concretas para estas espécies são escassas.

Além disso, sublinha a investigadora, a actual rede de áreas protegidas da Península Ibérica não é adequada para proteger a generalidade dos ecossistemas de água doce, logo é insuficiente para reverter as tendências de declínio.

"Acima de tudo, este estudo alerta para a necessidade urgente de investimento na protecção legal e no restauro dos habitats dos bivalves de água doce, mas também dos seus peixes hospedeiros", concluem os autores. O estudo contou ainda com investigadores das universidades do Porto, de Lisboa, de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Navarra (Espanha) e do Instituto Politécnico de Bragança.

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