Alemanha: secretário de Estado da Economia afastado após erro que foi “gota de água”

Amizade e parentesco não-declarados estão na origem do afastamento do político. O ministro da Economia e do Clima e o seu partido, os Verdes, estão a perder popularidade.

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Patrick Graichen e Robert Habeck: o ministro demorou a afastar o seu importante secretário de Estado Michele Tantussi/Reuters
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O ministro da Economia e Acção Climática, Robert Habeck, do partido Os Verdes, decidiu afastar o seu secretário de Estado, Patrick Graichen, responsável pela política de energia, depois de este ter cometido um erro que foi “a gota de água”.

A gota de água a que se referiu Habeck ao fazer este anúncio, na quarta-feira, foi o facto de Graichen ter participado numa decisão de dar aprovação preliminar de financiamento de 600 mil euros a um projecto da organização não-governamental Aliança para a Protecção do Ambiente e Natureza (BUND), uma das maiores ONG ambientalistas da Alemanha. Como a irmã de Graichen pertence aos órgãos dirigentes da associação, o secretário de Estado não deveria ter estado envolvido na decisão.

Antes, o político estava já sob fogo por não ter revelado a sua relação de amizade próxima com o candidato escolhido para dirigir a agência pública de energia (Dena). Graichen esteve no grupo que seleccionou, em Março, Michael Schäfer para o cargo. Schäfer foi padrinho de casamento de Graichen.

O secretário de Estado foi uma figura-chave no ministério – aliás, o subdirector da emissora pública ARD, Matthias Deiß, comentou que mais um sinal do seu peso foi o tempo que Habeck demorou a afastá-lo, o que fez o ministro perder capital político.

Tudo isto acontece numa altura em que parece já longe o tempo em que Habeck era o ministro mais popular do Governo, tendo tido crédito (junto com Graichen) pelo modo como o país superou a falta de fornecimento de gás da Rússia, sem ter de avançar para um racionamento, que chegou a estar em cima da mesa.

A perda de popularidade não é apenas de Habeck, também o seu partido, Os Verdes, estão com valores mais baixos nas sondagens: vários inquéritos de opinião recentes mostram o partido com um ponto percentual abaixo do partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD). Por exemplo, na sondagem mais recente do Instituto Forsa, Os Verdes têm 15% das intenções de voto e a AfD 16%. A CDU, União Democrata-Cristã, continua a ser o primeiro partido nas sondagens com 30% e o Partido Social-Democrata (SPD) está com 17%, e o Partido Liberal-Democrata, que está na coligação de Governo com o SPD e Os Verdes, tem 8%.

E a queda é visível não só nas sondagens: nas eleições de domingo passado em Bremen (uma cidade que é também um estado federado) os Verdes obtiveram apenas 12%, o valor mais baixo desde 1999.

Junto com os problemas de Graichen está uma proposta de lei para alteração dos sistemas de aquecimento das casas, para que estes comecem a contar mais com formas de energia renováveis e não se mantenham dependentes sobretudo do gás, proibindo a instalação de novos sistemas de aquecimento a gás e gasóleo já em 2024.

O Partido Liberal-Democrata está agora a tentar adiar a aprovação da lei argumentando que sem Graichen não tem interlocutor para as suas dúvidas, contra a vontade do SPD e do partido ecologista, que querem ver a norma discutida no Parlamento, segundo o diário Der Tagesspiegel. A CDU, que tem criticado a proposta, disse, na sequência da saída de Graichen, que esta deveria ser simplesmente cancelada.

A proposta de lei tem sido criticada por associações de defesa de consumidores que temem que a factura seja demasiado pesada para as pessoas que teriam de renovar os seus sistemas de aquecimento num prazo demasiado apertado, diz o jornal britânico Financial Times.

O diário comenta a queda de um ministro que era visto como um potencial chanceler caso os valores do seu partido a dada altura nas sondagens, muito acima dos 14,5% das eleições de 2019, se confirmassem. Mas, escreveu o chefe da delegação de Berlim do FT, Guy Chazan, “em poucos meses [Robert Habeck] passou de ser o ministro alemão mais popular ao que está em maiores dificuldades”.

Manfred Güllner, responsável pelo Instituto Forsa, disse ao diário financeiro que será difícil Habeck voltar à popularidade anterior. “Quando se cai tanto nas sondagens, e ainda se está numa tendência descendente, é muito difícil recuperar.”

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