Dia do Enfermeiro

A carreira de enfermagem tem de ser revista e valorizada, para que os enfermeiros possam voltar a querer o Serviço Nacional de Saúde.

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O Dia do Enfermeiro deveria ser um dia especial. Tal como todos os outros dias comemorativos, deveria ser um dia de alegria e de festejo. Assim seria, não fossem as circunstâncias deploráveis em que a minha profissão se encontra. Os enfermeiros são, hoje, mais qualificados do que nunca — acumulam mestrados, pós especializações, doutoramentos e pós graduações —, mas são também menos valorizados do que nunca.

Numa era de constante atualização e desenvolvimento, os enfermeiros interessam-se por participar em estudos, congressos, workshops e palestras que enriquecem os seus conhecimentos e que são também oportunidades para partilhar aquilo que sabem.

Todo este investimento é completamente descurado e até desprezado no nosso SNS. Temos centenas de enfermeiros especialistas nas mais diversas áreas que exercem todos os dias as suas funções, seja num bloco de partos ou como enfermeiros de reabilitação, e que ganham exatamente o mesmo pelo trabalho que desempenham. Ou seja, nada.

Eu pergunto-me se, em outra qualquer empresa, um funcionário que tenha estudado (e continue a aprofundar conhecimentos) para desempenhar as suas funções, que se especialize numa tarefa mais específica e complexa, não é remunerado de acordo com a sua especialização?

Porque é que os enfermeiros não são?

Porque é que os enfermeiros têm de mendigar os seus “pontos” — adquiridos ao longo de anos de exercício da profissão — para que lhes seja pago um bocadinho mais?

O Serviço Nacional de Saúde está há muitos anos a desprezar os enfermeiros e os enfermeiros vão saindo aos poucos, com a sensação de que podiam ainda contribuir muito para os doentes do SNS. Os enfermeiros querem ficar no SNS, mas o SNS continua a deixá-los sair (não seria exagero dizer que o SNS continua a empurrá-los) para qualquer grupo privado que os valorize mais.

A valorização que se impõe, tem de ser coincidente com a experiência e formação dos enfermeiros e não segundo uma tabela (ridícula), de não progressão na carreira, segundo a qual a progressão é feita através da atribuição de pontos. A carreira de enfermagem tem de ser revista e valorizada, para que os enfermeiros possam voltar a querer o SNS.

Toda a tristeza e mágoa com estas condições, que sei que é partilhada por muitos milhares de enfermeiros, só será solucionada se quem tem poder de decisão souber efetivamente do que fala, o que não me parece que aconteça atualmente. Os desafios enfrentados pelos enfermeiros no SNS são inúmeros e os enfermeiros estão dispostos a enfrentá-los.

Os doentes precisam dos enfermeiros, e o SNS também.

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