D. Diogo de Sousa, o arcebispo que mudou a face de Braga no século XVI, será homenageado com escultura

Projecto cívico “Amigos do Convento” vai homenagear D. Diogo Sousa, que criou a paróquia de Real há 500 anos, com uma escultura a cinzel que evocará a heráldica do brasão dos Sousas.

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D. Diogo de Sousa (1461-1532) criou aquele que é ainda hoje o pólo pedonal da Sé Catedral de Braga PAULO RICCA/Arquivo
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Muita da silhueta urbanística de Braga deve-se à influência de D. Diogo de Sousa (1461-1532), arcebispo de Braga durante 27 anos no período quinhentista: influenciado pelas visitas a Roma e Florença, dotou Braga de novos espaços públicos e ruas conexas, criou aquele que é ainda hoje o pólo pedonal da Sé Catedral de Braga, e, na periferia, construiu igrejas, capelas e conventos. Um desses conventos é o de S. Francisco de Real, cuja edificação foi ordenada no século XVI, entre 1522 e 1523. Durante esse período, D. Diogo de Sousa constituiria a paróquia de S. Jerónimo de Real, conduzindo ao que é hoje a freguesia de Real, situada na zona ocidental da cidade. Celebram-se 500 anos sobre a data, e o projecto cívico “Amigos do Convento” quer homenagear o antigo arcebispo através da criação de uma escultura a cinzel do brasão de armas da família dos Sousas.

O projecto comunitário “Amigos do Convento”, que já em Outubro do ano passado ofereceu à mesma paróquia uma pintura de S. Francisco de Assis no valor de 2500 euros correspondentes a mais de cinco mil donativos, insere a iniciativa, intitulada “Na pedra lembrar Diogo”, no objectivo de valorizar o complexo monástico do Convento de S. Francisco de Real, composto pelo convento e ainda pelo Mausoléu de S. Frutuoso de Montélios, edifício construído na segunda metade do século VII, classificado como Monumento Nacional desde 1944, e a Igreja de S. Jerónimo de Real, do século XVIII.

A escultura, com a dimensão de um metro de altura e 66 centímetros de largura, será esculpida em pedra, a cinzel, suportando-se na heráldica do brasão da família de D. Diogo de Sousa. Um dos exemplos do brasão pode ser encontrado numa das paredes exteriores da capela-mor da Sé Catedral, junto a uma imagem de Senhora do Leite e do brasão de D. Manuel, de quem D. Diogo de Sousa era amigo.

O brasão de armas consiste num esquartelado, combinando, no primeiro e quarto quartéis, as insígnias régias portuguesas, que evocam a ligação dos Sousas à Casa Real, e, no segundo e terceiro, os antigos sinais próprios da família, que remetem ao uso da caderna de crescentes em forma de cruz. A obra Estudos de Heráldica Medieval, de Miguel Metelo de Seixas e Maria de Lurdes Rosa, recorre à publicação As Armas dos Sousas ditos do Prado, de Francisco de Sima Alves de Azevedo, para explicar que os crescentes alusivos ao símbolo da cruz seriam a “cristianização de um sinal conotado com o inimigo islâmico, tradicionalmente ostentados pelos mouros”, significando a invocação da “vitória das forças cristãs”. A combinação das armas antigas da linhagem com as do reino traduziria também “a aliança matrimonial de uma herdeira da estirpe com um bastardo régio, no caso D. Afonso Dinis, filho de D. Afonso III”.

O significado das armas que eternizam as conquistas do reino de Portugal estabelece paralelo com a obra que os “Amigos do Convento” querem deixar. A pedra será esculpida à mão, “graciosamente”, por Mário Martins, artesão de Esposende de 70 anos, para evocar o “labor ancestral”, explica-se em comunicado.

A escultura, que será trabalhada entre Maio e Julho, vai ficar em exposição em Esposende. Será depois colocada no museu D. Diogo de Sousa, em Braga, e doada à Paróquia de Real. A intenção posterior passa por levar a pedra para o Convento de S. Francisco de Real, actualmente em reabilitação e cujas obras estão previstas terminarem no final do presente ano. Se tal não for possível, a escultura será deixada para as “novas gerações, para que estas a possam deixar no Convento” e, desse modo, “se envolverem na preservação e valorização do património cultural”.

A iniciativa "Na pedra lembrar Diogo" conta com o apoio institucional do alto patrocínio da Presidência da República, da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), do Turismo Porto e Norte, da Câmara de Braga e das freguesias do centro da cidade.

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