Low Rider ST: a Harley-Davidson está aí para as curvas

Grande, potente e com força que parece ser capaz de subir uma parede. A nova Harley-Davidson é agora um ícone do motociclismo a olhar para o segmento das desportivas de turismo.

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A Harley-Davidson Low Rider ST custa 26.400 euros (com despesas incluídas) Maria Abranches
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A Harley-Davidson está para as curvas, 120 anos depois – foi em 1903 que William S. Harley e Arthur Davidson construíram a primeira moto de produção​ –, sendo actualmente uma das marcas mais reconhecidas no mundo, mesmo para quem não anda ou não gosta de motos. Ter uma Harley é uma espécie de estatuto e também, muitas vezes, uma forma de estar. Mas desengane-se quem pense que uma Harley é só para velhos barbudos e tatuados que vestem cabedal. A lendária marca norte-americana tem feito um esforço para chegar a outros públicos – o lançamento do modelo eléctrico LiveWire é disso exemplo –, ao mesmo tempo que não renega as origens.

A nova Low Rider ST (FXLRST é o nome de código do modelo) não é das maiores, mas segue a tarimba das grandes e pesadas Harley-Davidson, com motores de grande cilindrada e extraordinária qualidade de construção, com requinte estético e atenção ao detalhe – o modelo testado, que bebe inspiração na FXRT dos anos 1980, difere do modelo S essencialmente pela inclusão do fairing (carenagem dianteira) e das malas laterais. Preço a pagar pelo luxo: a partir de 26.400 euros em Portugal (despesas incluídas).

Esta ST tem o já conhecido motor bicilíndrico em V de 45º com 1923 cc (117 polegadas cúbicas). Exactamente, tem mais cilindrada que a maioria dos carros que circulam nas estradas portuguesas, e isso dá-lhe um cunho particular. Para começar, no som muito característico; depois, não sendo um motor muito potente (tem “apenas” 105cv, valor abaixo de alguns modelos com metade da cilindrada), tem uns maravilhosos 168 Nm de binário máximo às 3500 rpm, o que transmite a sensação de que é possível subir uma parede; e, em cima disto, o peso –​ 327 quilos em ordem de marcha.

Harley-Davidson Low Rider ST
O grande motor de dois cilindros em V tem 1900 cc
A protecção aerodinâmica ("fairing")
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Harley-Davidson Low Rider ST

Na prática, pesa mais 100 quilos que a generalidade das motos de média/alta cilindrada, entre os 700 e os 1100 cc, e isso nota-se bem no desempenho, no bom e no mau sentido.

Começando pelo pior: é mais difícil de a manobrar a baixa velocidade. Nomeadamente no trânsito citadino, requer habituação e treino –​ não faltam no YouTube exemplos de perícia com grandes Harley (no motociclismo, o exercício regular faz toda a diferença). Depois, se cair ou tombar, vai ser mais difícil levantá-la e, não pensando em desgraças, uma simples manobra de arrumação exige força muscular – é um daqueles casos em que dava jeito ter marcha-atrás.

Ao mesmo tempo, esses quase 330 quilos são um grande atributo: tornam a moto extraordinariamente estável em estrada e permitem que nos sintamos como que pregados ao chão. A sensação é física, e o baixo centro de gravidade contribui para isso. Depois, contraria a ideia feita de que as Harley não são boas para fazer curvas: esta Low Rider adorna bem e é divertida na condução em estradas sinuosas. Ou seja, a FXLRST é uma cruiser com espírito desportivo (uma Sport Tourer), capaz de cumprir com a maioria dos requisitos do segmento, nomeadamente ter um motor com bom comportamento dinâmico e capacidade estradista.

Na verdade, esta Low Rider ST pede quilómetros na auto-estrada, que percorre com segurança e relativo conforto. Aqui, a reticência prende-se a dois pormenores, ambos ligados ao gosto e carácter da máquina e do condutor: a posição elevada dos braços e das pernas pode gerar algum desconforto ao fim de algum tempo e a vibração nos punhos que se faz sentir (e bem) a 120 km/h. O controlo de velocidade (cruise control) pareceu-nos essencial para descansar os braços. A esta velocidade, a protecção aerodinâmica é decente e a HD consegue um compromisso que não desvirtua a sensação que é conduzir uma moto grande e poderosa. Outro detalhe interessante que nos liga à estrada é a relativa ausência (aparente) de tecnologia.

Como o nome indica, a Low Rider é uma moto bastante baixa, a altura do assento é de 72 cm
Transmissão de correia. O sistema de controlo de tracção é opcional e ainda não disponível em Portugal. No nosso teste não sentimos que fizesse falta
O travão da frente é muito poderoso, o traseiro nem tanto
A suspensão da Low Rider ST é bastante eficiente
O requinte vê-se nos detalhes. Os ganchos do fecho as malas são disso exemplo
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Como o nome indica, a Low Rider é uma moto bastante baixa, a altura do assento é de 72 cm

As motos estão cada vez mais apetrechadas de ecrãs e funcionalidades multimédia, mas a Harley-Davidson resiste a embarcar na tendência. Esta Low Rider possui apenas um pequeno mostrador com informação básica (velocidade, contadores de viagem e autonomia) e até o conta-rotações é apenas um número que sobe e desce, sem indicação de redline (que acontece logo às 5500 rpm). E, a bem da verdade, não precisamos de mais: o motor dá-nos todos os sinais sobre se o estamos a tratar bem e tem tanta força que puxa sem dificuldade em quase todas as faixas de rotação.

É quase como se a Harley ​nos estivesse a dizer para nos focarmos na estrada e apreciar a viagem. Quer saber a temperatura do ar? Abra a viseira do capacete. Quer saber se o motor está em esforço? Ouça-o. Gostava de ter quick shifter (mudanças rápidas)? Não pode – até porque vale a pena sentir a robustez da embraiagem.

Esta simplicidade evita distracções. A única presente no modelo que ensaiámos foi o sistema de som com 250 watts que toca surpreendentemente bem e alto. Este opcional custa 1690 euros e não é para todos, mas percebemos a piada.

A Low Rider ST está disponível em preto, pérola e azul ,
Painel de instrumentos é minimalista
As colunas instaladas na carenagem tocam muito alto e são audíveis mesmo em velocidade de auto-estrada
Detalhe das malas laterais rígidas e do encosto para o passageiro (opcional)
Malas laterais rígidas perfeitamente integradas
Os espelhos são decentes
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A Low Rider ST está disponível em preto, pérola e azul ,

A Low Rider ST não é nada barata, mas os mais de 26 mil euros são o preço a pagar por uma moto de construção premium com um grande motor. As manutenções programadas são condizentes: acontecem aos 1600 e depois a cada oito mil quilómetros, com preços a rondar os 400 euros. O consumo médio em trajecto misto do nosso teste coincide com o anunciado pela marca, 5,5 l/km (números redondos, já que o mostrador não dá indicação directa do consumo), um valor muito razoável para um motor com 1900 cc.

Para tal, contribui a tecnologia que “não se vê” e que é mais importante do que painéis TFT carregados de informação: quando a Low Rider ST está parada num semáforo, por exemplo, um dos cilindros desliga-se para evitar sobreaquecer o motor e para poupar combustível.

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