Regresso ao trabalho após o cancro

De todas as doenças crónicas, o cancro é a que tem maior prevalência de perda de emprego e só cerca de 64% das pessoas regressa ao trabalho após a doença.

A Associação das Ligas Europeias Contra o Cancro, da qual a Liga Portuguesa Contra o Cancro faz parte, está a realizar uma campanha de sensibilização a nível europeu, nesta semana do Dia do Trabalhador, para chamar a atenção para as dificuldades dos doentes no regresso ao trabalho após o cancro.

Segundo o European Cancer Information System (ECSY), em 2020 houve cerca de 2,7 milhões novos diagnósticos de cancro na Europa. Destes, cerca de 1.390.000 pessoas estavam em idade ativa das quais cerca de 30.000 em Portugal.

Graças aos avanços no diagnóstico, deteção precoce e tratamento, as pessoas têm mais probabilidade de sobreviver ao cancro e um número crescente de pessoas é capaz de voltar ao trabalho, ou (parcialmente) continuar a trabalhar durante o tratamento. No entanto, de todas as doenças crónicas, o cancro é a que tem maior prevalência de perda de emprego e só cerca de 64% das pessoas regressa ao trabalho após a doença.

Voltar ao trabalho nem sempre é fácil, já que os sobreviventes de cancro podem enfrentar problemas mentais, cognitivos e físicos após a doença. A fadiga relacionada com os tratamentos, dificuldades cognitivas, como problemas de concentração, dificuldades na memória de curto prazo e sentimentos de angústia são sintomas frequentemente relatados pelos pacientes.

É importante destacar que, além dos efeitos físicos e mentais de um diagnóstico do cancro, pode haver um grande impacto financeiro, não só nos pacientes, mas também nas suas famílias.

Algumas das mais importantes dificuldades no regresso ao trabalho relatadas pelas pessoas com diagnóstico de cancro no regresso ao trabalho são: sentimento de culpa devido a ausências frequentes no local de trabalho; nervosismo devido à incerteza no futuro quanto à segurança do seu posto de trabalho e promoções na carreira; comunicação com os colegas e falta de confiança pessoal na eficácia do seu trabalho.

Para o empregador, muitas vezes, também não é fácil conseguir um equilíbrio entre aquelas que são as necessidades da empresa e as necessidades do trabalhador. Surgem dificuldades de comunicação com o colaborador diagnosticado com cancro devido a mitos, atitudes, excesso de empatia ou pena e dificuldade em compreender quais as suas necessidades de forma a melhor ajustar as suas tarefas ou local de trabalho.

Assim, tem havido a nível europeu e nacional uma procura em responder assertivamente às necessidades dos doentes oncológicos aquando da sua reintegração no contexto laboral e consequente regresso à vida ativa e, simultaneamente, em sensibilizar colegas de trabalho e chefias para as dificuldades sentidas pelo colega/trabalhador após o processo de doença. Para isso, é necessário promover ações de reintegração, sensibilização e esclarecimento no sentido de dotar a população que constitui o contexto laboral do doente oncológico de suporte informativo e competências para atuar neste tipo de situações.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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