Pelo dia em que se festeje o fim do Dia do Trabalhador!

Esta sociedade que trabalha cerca de oito hora por dia, cinco dias por semana está extremamente insatisfeita. O que chocaria qualquer um dos presentes no primeiro 1.º de Maio.

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Megafone P3: Pelo dia em que se festeje o fim do Dia do Trabalhador! Nuno Ferreira Santos

O primeiro dia de Maio é, praticamente desde o 25 de Abril de 1974, em Portugal, uma data de festa e um dia marcado pela “luta dos trabalhadores”, através do exercício da manifestação, associação e reunião.

Este dia teve origem nas lutas operárias norte-americanas, nomeadamente, na cidade extremamente industrial de Chicago em 1886, onde se iniciou um movimento contínuo de reconhecimento de direitos laborais e onde se reconheceu a importância de um sistema universal de educação básica.

Uma das mais notórias conquistas deste movimento foi a redução da jornada de trabalho. A conquista das oito horas diárias como regra adveio deste movimento. Onde existia uma exploração superior, talvez, a metade do dia, como dia de trabalho.

Claramente que esta conquista é hoje, praticamente, transversal. Mas, no sector primário, essa conquista veio depois — e mais pela sofisticação de processos do que, propriamente, pela conquista operária.

Em Portugal, transitaram desde 1974 até 2022, de 35% para 3% dos trabalhadores no sector primário, 34% para 25% no sector secundário e de 31% para 71% no sector terciário. Isto significa que, de uma força de trabalho equilibrada entre sectores, adveio uma terciarização decorrente de vários factores, destacando a globalização e europeização e o desenvolvimento tecnológico.

Com os últimos tempos marcados quer pela crescente desafectação ao actual modelo socioeconómico ocidental, quer pelo reaparecimento de movimentos de extrema-direita, movimentos sociais e profissionais em manifestação e greve, quer em Portugal como na Europa (ex: França) e, simultaneamente, marcados pela maravilha tecnológica das vacinas RNA, das fabricas robotizadas e da Inteligência Artificial (IA), como o Chat GPT 4, será de rever a lição que nos ensinaram os corajosos grevistas e manifestantes de Chicago.

Ora, esta sociedade que trabalha cerca de oito horas por dia, cinco dias por semana, maioritariamente no sector dos serviços, está extremamente insatisfeita. O que chocaria qualquer um dos presentes no primeiro 1.º de Maio.

Mas ainda bem que o está! Estas insatisfações, tal como o eram as do final do século XIX, são resultado de vermos que é possível termos mais e melhor. A desumanidade da procura do lucro fez com que a exploração humana do período industrial resultasse no início da ponderação do trabalhador como essência da sociedade moderna. Ora, já passou mais do que tempo para passar ao próximo avanço.

Existem já ideias, consideradas utópicas, algumas compiladas num livro chamado até Utopia para Realistas, que parecem vir para fazer, por este momento, o que o movimento operário do 1.º de Maio veio fazer na sua altura.

Este livro, e outros, concordam que este status social não nos serve e que podemos utilizar da nossa tecnologia, como a robótica e, principalmente, a IA para conseguir algo mais compatível com a nossa existência, arguindo em muitos casos que é a única alternativa sustentável pois o crescimento infinito económico num planeta finito é (ou só pode ser) catastrófico.

As ideias como a semana de quatro dias de trabalho e um rendimento básico incondicional já têm muito estudo e evidências de serem possíveis soluções para libertar as pessoas. Deixamos de associar quem somos ao nosso emprego, passando a poder ser indivíduos que vivem, complementando a sua existência básica com um rendimento do trabalho que nos destaca economicamente pelo esforço realmente útil à sociedade.

Por outro lado, enquanto não largarmos a bitola do pleno emprego não poderemos impulsionar a robótica e IA porque leva ao aumento do desemprego e, consequentemente, à pobreza de grandes camadas sociais.

Assim, há que ansiar pelo dia em que rendidos pelas evidências e sobre a nossa tacanha forma de não aceitar nada contra intuitivo, como a ideia de que podemos produzir o mesmo em quatro dias que produzimos em cinco, ou que se dermos todos um rendimento para sobreviver, ainda assim, vamos ter mais gente a ser produtiva do que a não o fazer, e resultados económicos, relativa e absolutamente, melhores. Eliminando, directamente, a pobreza.

Há que sonhar. Sonhar pelo dia em que se festeje o fim do Dia do Trabalhador.

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