Exposição de Goya com obras inéditas em Portugal abre este sábado em Cascais

Mostra que fica no Centro Cultural de Cascais até 9 de Julho evidencia a forma como o icónico pintor e gravador espanhol do século XVIII “abriu portas a um novo conceito de arte”.

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Niños peleándose por castañas ("Crianças a lutar por castanhas", numa tradução livre), uma das obras de Goya que poderão ser vistas em Cascais DR

A exposição Goya: Testemunho do seu Tempo, cuja inauguração acontece este sábado às 18h30 no Centro Cultural de Cascais, reúne dez pinturas de Francisco de Goya (1746-1828) que serão apresentadas pela primeira vez em Portugal, bem como quatro séries de gravuras do mestre espanhol. A mostra, que estará patente até 9 de Julho, é uma iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus.

Considerado um dos mais importantes artistas espanhóis do século XVIII, assim como um precursor da arte moderna pelo carácter inovador da sua obra, Goya inspirou correntes artísticas que surgiriam nos séculos seguintes, do romantismo ao surrealismo. As curadoras Maria Toral e Maria Oropesa fizeram uma selecção que propõe um percurso pelos temas mais importantes da sua obra gráfica e pictórica, para evidenciar a forma como abriu portas a um novo conceito de arte.

“O artista como testemunha do seu tempo que, imbuído de um profundo sentido de liberdade, é capaz de expressar: o seu liberalismo político; as suas opiniões sobre temas como a religião e as instituições; o seu fascínio pelas mulheres e a força emocional da família; amor e luxúria; o desagrado pela opressão intelectual; e a aversão à guerra, reflectindo o período de convulsões políticas e transformações sociais em que viveu”, refere uma nota da curadoria.

Seis das pinturas apresentadas pela primeira vez em Portugal formam a série Jogos Infantis, produzida entre 1775 e 1786 e em que Goya retrata cenas da vida quotidiana. As obras pertencem à colecção da Fundación de Santamarca y de San Ramón y San Antonio, sediada em Madrid, Espanha.

Nos detalhes destas obras, é possível observar como Goya testemunhou a sociedade do seu tempo, chamando a atenção para as desigualdades sociais da época: em Crianças no Baloiço, por exemplo, o pintor retrata algumas crianças vestidas com uniformes escolares impecáveis, que contrastam com as roupas esfarrapadas de outras crianças da mesma idade.

Há ainda duas obras que pertencem ao Museu Goya — Colecção Ibercaja, Baile de Máscaras (c. 1808-1820) e O Dois de Maio de 1808 ou A Carga dos Mamelucos (1814), uma das suas obras-primas, hoje parte da colecção do Museu do Prado, também em Madrid.

Os outros dois quadros apresentados pela primeira vez no país são pinturas religiosas que Goya produziu na primeira fase da sua carreira, quando viveu e trabalhou em Saragoça, sendo relevantes porque testemunham os seus primeiros passos e a sua consolidação enquanto artista, explica o texto das curadoras.

Além destas obras inéditas em Portugal, serão apresentadas as séries de gravuras Os Caprichos, A Tauromaquia, Os Desastres da Guerra e Os Disparates ou Provérbios, em dois pisos do Centro Cultural de Cascais.

Durante muitos anos pintor oficial da família real espanhola no reinado de Carlos IV, Goya foi também um cronista das questões sociais e das guerras do seu tempo, como evidenciam estas séries de gravuras, produzidas a partir da década de 1790. A sequência é iniciada com Os Caprichos, de 1799, em que o artista satiriza os excessos da sociedade na religião, moralidade, superstição e bruxaria. Desta série faz parte, por exemplo, a obra O Sonho da Razão Produz Monstros.

O segundo conjunto corresponde a Os Desastres da Guerra, um retrato das atrocidades e consequências da guerra que testemunhou. No mesmo período, aos 70 anos, Goya produziu a terceira série, intitulada A Tauromaquia, sobre a história e tradição das touradas em Espanha. A exposição termina com a apresentação de 13 gravuras que fazem parte de Os Disparates ou Provérbios (1815-1824), a última série produzida por Goya. Estas são consideradas as mais enigmáticas das suas composições.

A exposição no Centro Cultural de Cascais ficará aberta ao público de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.

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