Hanif Kureishi vai ditar memórias após queda incapacitante

Shattered resultará do longo internamento após um acidente que deixou o escritor sem conseguir escrever. Dita à família o que vai colocando nas redes sociais e tal transformar-se-á em livro.

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Hanif Kureishi, fotografado em Lisboa em 2017 daniel rocha

O romancista e argumentista Hanif Kureishi está a trabalhar num novo livro, que compilará e aumentará as reflexões e escritos que tem partilhado nas redes sociais após a queda que o deixou "divorciado" do seu corpo e sem a certeza se alguma vez conseguiria voltar a andar ou segurar numa caneta. A notícia é avançada pelo site especializado Bookseller e pelo diário britânico The Guardian, que indicam que estas memórias se intitularão Shattered.

Segundo a editora, a Hamish Hamilton (uma chancela da Penguin Random House), o livro será feito dos posts publicados nas redes sociais pela sua família sobre o que o autor consegue comunicar. “Reflexões imperiosas sobre a sua situação, a escrita e a vida, compostas com uma honestidade destemida, perspectiva e humor, que comoveram e fascinaram leitores em todo o mundo.”

No dia 26 de Dezembro, o escritor de 68 anos sofreu uma queda debilitante em Roma. Sentiu-se tonto enquanto assistia a um jogo de futebol e terá desfalecido, acordando a sangrar e tendo depois sido submetido a uma cirurgia à coluna. Mantém um estado ainda muito dependente e não consegue controlar os seus movimentos.

“Não recomendo a ninguém um acidente como o meu, mas estar deitado completamente inerte e em silêncio num quarto desinteressante nos arredores de Roma sem qualquer distracção é de facto bom para a criatividade. Privados de jornais, música e tudo o resto, damos por nós sendo muito imaginativos”, partilhou recentemente.

Shattered será publicado em 2024 e representa uma troca de editoras por parte do autor, que no Reino Unido era publicado pela Faber. Junta-se assim ao velho amigo Simon Prosser, director de publicação da Hamish Hamilton (onde são editados Noam Chomsky, Ta-Nehisi Coates, Angela Davis, Dave Eggers, Jonathan Safran Foer, Javier Marías, Arundhati Roy, Zadie Smith ou Susan Sontag).

O autor, citado por ambas as publicações, diz que será “um prazer” finalmente trabalhar com Prosser. O editor descreve o que serão os próximos meses de trabalho: “moldar estas missivas do hospital num livro”. Espera “que o arco narrativo final seja o da sua recuperação”.

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