No País dos Arquitectos: A recuperação do Cinema Batalha

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O Cinema Batalha é um dos ícones da cidade do Porto
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No 54.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, do Atelier 15, sobre o Cinema Batalha, agora rebaptizado de Batalha Centro de Cinema. Este episódio do podcast “No País dos Arquitectos” foi especial, pois foi a primeira vez que a Building Pictures fez a gravação do podcast com público. A gravação ocorreu na Casa da Arquitectura.

O Cinema Batalha, projectado pelo arquitecto Artur Andrade, foi inaugurado em 1947 e esteve em funcionamento até 2000. Manteve-se fechado até 2006, altura em que reabriu pelas mãos da Associação de Comerciantes do Porto (ACP). Em 2010, o edifício encerrou novamente e só em 2017 é que Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez foram convidados a desenvolver o projecto de recuperação do Batalha.

A história do Cinema cruza-se com a vida dos arquitectos e ambos recordam as ligações afectivas deste edifício que se tornou “numa espécie de prolongamento” das suas casas. Alexandre Alves Costa refere que o Batalha foi uma espécie de um manifesto anti-fascista e conta que Luís Neves Real – “da família dos proprietários do Batalha” e também responsável pela “programação de vários cinemas no Porto” –, usava uma passagem que dava acesso ao Cinema [Batalha] a partir da sua casa para ver os filmes que tinham sido censurados pelo Estado Novo.

Sobre o projecto, os arquitectos revelam que, numa primeira fase da obra, pensou-se que o edifício apenas necessitaria de “pequenos trabalhos de reparação”, mas depois verificou-se que a intervenção teria de ser mais profunda: “O grande desafio que tivemos foi preservar completamente o espírito do projecto do arquitecto Andrade que nós respeitamos muito (...) e, simultaneamente, [procurámos] trazer o projecto para a contemporaneidade.”

Um aspecto realçado por Sérgio Fernandez, durante a conversa, é também o envolvimento que existiu entre os diferentes intervenientes no decorrer da obra: “Os arquitectos apaixonam-se pelas obras, mas esta foi muito especial. Nós e as pessoas lá do escritório fomos para lá viver quase. Houve uma coisa que nunca nos tinha acontecido: toda a gente – desde o empreiteiro, à fiscalização, ao representante do dono de obra – esteve sempre entusiasmada (...). Foi algo que nunca tinha acontecido, a ponto de haver simples proletários que choraram quando descobrimos os frescos do [Júlio] Pomar, que estavam tapados.” Os dois painéis, alusivos ao São João do Porto, tinham sido censurados pela PIDE e foram devolvidos à cidade, tendo sido restaurados através de uma técnica inovadora, onde é possível “ver o limite da intervenção”, sem quebrar “a continuidade do trabalho”.

Ainda no contexto do projecto de recuperação do Batalha Centro de Cinema, Alexandre Alves Costa lembra também que não só os fiscais de obra se entusiasmaram e começaram a pintar, como até as próprias famílias dos trabalhadores ajudaram nos vários trabalhos que foram sendo feitos. Um dos trabalhadores chegou, inclusivamente, a fazer uma furação, enquanto tinha a filha ao colo.

O arquitecto Alexandre Alves Costa chama ainda a atenção para o baixo-relevo que se encontra na fachada do Cinema Batalha, onde se pode ver a figura do operário com um martelo na mão. Esse mesmo martelo foi retirado pela PIDE e voltou a ser reposto agora em metal. Mas não foi apenas o martelo que sofreu a intervenção censória do regime salazarista. Os próprios puxadores das portas do cinema com as iniciais CB, foram mandados retirar porque a PIDE interpretou que as letras “representavam o Comité Bolchevista”. Tal como o martelo, também os puxadores foram recuperados.

Para conhecer estas e outras curiosidades sobre o Batalha Centro de Cinema e a importância que este projecto representa para a cidade do Porto, ouça a entrevista na íntegra. O episódio está também disponível em vídeo no canal do YouTube da Casa da Arquitectura.


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