Sindicato ferroviário espanhol propõe linha transfronteiriça entre o Minho e a Galiza
Comisiones Obreras apresenta plano para comboios suburbanos entre Valença e Guilharei, inter-regionais entre Viana e Vigo e longo curso com comboios directos Lisboa-Vigo
A estrutura sindical espanhola Comisiones Obreras (CO) apresentou um conjunto de propostas para “reactivar a mobilidade das pessoas e do tráfego de mercadorias” na Galiza e entre aquela região e Portugal, que passa pela criação de um modelo de “comboios de proximidade” que sirva os núcleos populacionais e urbanos das duas regiões.
“Comboios de proximidade” é um conceito algures entre aquilo que a CP designa por comboio suburbano e comboio regional e que seriam “uma aposta viva para melhorar a estruturação do território”, de acordo com um documento das CO apresentado nas I Jornadas Ibéricas pela Ferrovia, que se realizaram em Madrid na semana passada, no âmbito da Aliança Ibérica Pela Ferrovia.
A proposta das CO passa pela criação de um serviço curto entre Valença, Tui e Guilharei, permitindo, nas duas estações galegas, dar ligação aos comboios, respectivamente, para Vigo e para Ourense.
Um segundo serviço, de âmbito de média distância, consistiria num inter-regional entre Viana do Castelo e Vigo, com paragens em Âncora-Praia, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença, no lado minhoto, e Tui, As Gándaras, O Porriño, Os Valos, Redondela e Chapela, do lado galego.
Por fim, propõe-se que alguns Intercidades vindos de Lisboa para Valença sejam prolongados até Vigo.
A proposta é verdadeiramente integrada, pois propõe a complementaridade com os autocarros para outros destinos, as ligações fluviais do rio Minho e um particular cuidado com as estações que deverão ter todas parques de estacionamento, pontos de carregamento eléctricos e zonas para bicicletas. A própria bilhética não ficou esquecida, sugerindo-se a criação de um título de transporte intermodal comboio-autocarro-barco para facilitar as deslocações na região.
Para conseguir estes objectivos, e de acordo com o documento das CCOO, “é indispensável contar com a cooperação e o consenso das administrações galega, espanhola [Estado central] e portuguesa e muito especialmente com os Ayuntamientos e câmaras municipais próximos à linha férrea para se coordenarem e se comprometerem com um modelo ferroviário útil, eficaz e integrado numa rede de transportes que estruture as deslocações das pessoas e responda também às necessidades empresariais da Euroregião Galiza – Norte de Portugal”.
Ao contrário de muitos sindicatos portugueses, mais focados na defesa tout court dos seus trabalhadores, as estruturas sindicais espanholas consideram que têm também uma função social e política, explica Rafael Garcia, das CO de Pontevedra. Em declarações ao PÚBLICO, este dirigente diz: “Temos no nosso ideário a defesa dos nossos associados, mas também de todos os cidadãos e por isso fazemos este tipo de propostas porque queremos que o caminho-de-ferro preste um bom serviço a toda a sociedade.”
Rafael Garcia diz que o investimento para esta proposta não está quantificado, mas sublinha que não será muito elevado porque as linhas já existem, estão electrificadas de ambos os lados da fronteira e será só necessário fazer uma pequena renovação de via do lado espanhol. O maior investimento nem é directamente na ferrovia, mas nas estações degradadas que devem ser renovadas para acolher os passageiros e nos equipamentos à sua volta para as tornar verdadeiramente atractivas e intermodais.
O documento diz que esta é uma “oportunidade histórica” de responder às necessidades das populações “com uma linha de finais do século XIX quando estamos imersos no século XXI”.
“Isto é sobretudo uma questão política: as infra-estruturas estão optimizadas, trata-se apenas de pôr mais ou menos comboios em cima dos carris”, diz o dirigente, cuja sindicato já escreveu ao ministro de Fomento espanhol e ao ministro das Infra-estruturas português antes da última cimeira ibérica. “Ainda não obtivemos resposta”, lamentou.
Actualmente, há 13 comboios por dia, em cada sentido, a servir a estação de Valença. Mas do lado de lá do rio, em Tui, não pára qualquer comboio desde o fim do regional Vigo-Valença, suspenso indefinidamente pela Renfe com a pandemia como justificação. A disparidade é enorme e indicia a pouca importância que a Renfe atribui às relações ferroviárias com a fronteira portuguesa. De resto, o único comboio que atravessa a fronteira em duas viagens diárias de ida e volta é o Celta (que liga o Porto a Vigo), único comboio a diesel numa linha totalmente electrificada. Este serviço gasta 1176 litros de gasóleo por dia.