Paris vai proibir as trotinetas alugadas. Em Lisboa não vão a referendo

A câmara de Paris já garantiu que ia respeitar a decisão dos cidadãos. Questionada pelo PÚBLICO, Lisboa não admite seguir a mesma via e reforça que existe “acordo de colaboração” com as operadoras.

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Apesar de não ser vinculativo, a câmara de Paris já fez saber que ia respeitar a decisão dos cidadãos EPA/YOAN VALAT

Os serviços de aluguer de trotinetas devem continuar a operar no centro das cidades? Paris referendou a questão — e o “não” ganhou, de acordo com os resultados da votação deste domingo. Apesar de não ser vinculativo, a câmara de Paris já fez saber que ia respeitar a decisão dos cidadãos.

Ao longo do dia, multiplicaram-se as filas nos locais de voto espalhados pelos 20 bairros de Paris. Mais de 100 mil parisienses quiseram ter uma palavra a dizer sobre o tema das trotinetas no centro da cidade. Tanto a adesão quanto os resultados foram expressivos: 89,03% dos parisienses votaram contra as trotinetas eléctricas nas ruas da capital. E foram os bairros mais periféricos que mais votaram “não”, de acordo com o Le Parisien.

“Preferi votar contra, Paris é uma confusão”, disse Ibrahim Beutchoutak, 47 anos, à Reuters, citando a falta de organização e o perigo como motivos.

As empresas que exploram estas trotinetas operam na capital francesa desde 2018. Desde 2020, quando as regras sobre estes veículos apertaram (com novas regras sobre o número de trotinetas, velocidade e locais de estacionamento), que apenas existem três operadores em Paris. E agora, se a câmara cumprir a promessa de respeitar a decisão dos cidadãos, podem ser zero. O contrato de três anos está a chegar ao fim — acaba em Setembro — e pode não ser renovado.

As garantias são dadas pela própria presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo: “No dia 1 de Setembro, não haverá mais trotinetas de serviço livre em Paris”, disse no domingo.

Para além do estacionamento errático, entre as preocupações dos parisienses conta-se, também, a segurança. Em 2021, pelo menos três pessoas morreram nos mais de 450 acidentes registados com trotinetas eclécticas em Paris, de acordo com os números da Reuters. “No meu trabalho, vemos muitos acidentes rodoviários causados por trotinetas, por isso vemos os efeitos negativos”, disse a médica Audrey Cordier, 38 anos, à mesma agência noticiosa.

Lisboa não vai referendar trotinetas

Em Portugal, a situação é diferente. Questionada pelo PÚBLICO, a Câmara de Lisboa não confirmou a vontade de promover qualquer tipo de referendo. O PÚBLICO enviou perguntas à Câmara do Porto, mas não obteve respostas até ao momento de publicação desta notícia.

No caso de Lisboa, a assessoria salienta que o “caminho seguido” foi o de “reunir com as empresas de trotinetas que operam na cidade, dialogar com elas e estabelecer um acordo de colaboração”, que foi assinado em Janeiro.

Tal como as regras implementadas em Paris em 2020, também Lisboa optou por reduzir a velocidade, limitar o número de trotinetas por operador e delimitar lugares de estacionamento obrigatório. “A maioria destas medidas já está concretizada e operacional”, afirma a assessoria de imprensa da câmara de Lisboa.

Em Fevereiro, o PÚBLICO noticiava que o número de acidentes com este tipo de veículos estava a aumentar na capital – assim como a sua gravidade. “Já tivemos vários casos em cuidados intensivos, sobretudo de jovens e turistas”, dizia o director médico do Hospital Egas Moniz e chefe de equipa de Cirurgia Geral do Hospital São Francisco Xavier, Carlos Nascimento.

Em todo o mundo, as autarquias onde as empresas de trotinetas eléctricas operam estão a apertar a regulamentação. E, em Paris, também houve quem advogasse a favor de um novo reforço das regulamentações em vez de uma proibição. “Votei a favor porque sou contra a escolha bastante binária que nos é dada”, afirma Pierre Waeckerle, 35 anos, à Reuters. “Não quero que as trotinetas façam o que quiserem nas calçadas, mas proibi-las não é prioridade.”

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