Rui Guimarães, um homem das florestas rendido ao Loureiro

Ser uma marca praticamente desconhecida e com vinhos na carta de estrelas Michelin já diz muito. Não só sobre a Quinta Pousada de Fora, mas também sobre as novas tendências nos vinhos verdes.

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Rui Guimarães é engenheiro florestal e produtor de vinhos na Quinta da Pousada de Fora, em Guimarães Rui Oliveira

Rui Guimarães é um engenheiro florestal que nunca tinha trabalhado com vinha até que o irmão, Ricardo, engenheiro civil, o aliciou para um projecto conjunto. “Queríamos fugir da onda dos mirtilos, dos frutos vermelhos ou cogumelos, e o Ricardo disse que adoraria fazer vinhos de Alvarinho”, conta.

O problema é que paixão e razão nem sempre avançam pelo mesmo trilho e as coisas não saíram como imaginaram. Como em tudo na vida, no entanto, há males que vêm por bem. Neste caso até em dose dupla e sequencial. “É claro que queríamos fazer as coisas a sério, e para Alvarinho teria de ser em Monção e Melgaço, mas os terrenos ali devem ter ouro, pediam quantias absurdas”. A segunda contrariedade veio com a pandemia, que se colou ao arranque das vendas da primeira colheita. Um atraso de dois anos que acabou por ser a maior bênção para a afirmação da qualidade dos vinhos.

Não sendo Alvarinho, teria de ser Loureiro, e voltaram-se então para a Guimarães natal. Das andanças florestais, Rui conhecia já o espaço da Pousada de Fora quando descobriram que estava à venda. E não deixaram escapar a oportunidade. Quase nove hectares, três dos quais um bosque de carvalhos que faz barreira com a teia urbana. Uma espécie de oásis, separado do coração da cidade por um curto passeio a pé.

Por uma questão prática, plantaram apenas duas castas, Loureiro (70%) e Arinto, tendo este sido aconselhado pela adaptação às mudanças climáticas. Outra excelente surpresa que querem agora expandir.

Nos vinhos da Quinta da Pousada de Fora são predominantes as castas loureiro e arinto Rui Oliveira
Nos quase nove hectares da Quinta da Pousada de Fora cabe um bosque de carvalhos que faz barreira com a teia urbana de Guimarães Rui Oliveira
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Nos vinhos da Quinta da Pousada de Fora são predominantes as castas loureiro e arinto Rui Oliveira

A par dos varietais de ambas as castas – e um espumante que se esgotou num ápice –, engarrafam também um Loureiro Reserva que estagia em barricas com borras finas e nove meses em garrafa antes de ser lançado. O de 2020 vai começar a ser vendido em Julho próximo. Vai haver também um Garrafeira, um field blend das duas castas, que aguarda ainda em barrica o tempo certo de lançamento. “Foi uma surpresa a evolução do loureiro, os americanos adoram”, regozija-se Rui.

Outra surpresa foram as ruínas das casas agrícolas que encontraram debaixo do matagal, quando começaram a desbravar os terrenos para a plantação da vinha. “Começámos pelas uvas e temos habitações”, diz, referindo-se às 16 camas em turismo de habitação que a Pousada de Fora oferece a partir da recuperação dessas construções. Ao alojamento associam também provas, estando para isso já em construção um espaço específico.


Este artigo foi publicado no n.º 8 da revista Singular.

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