Dúvida: deixar o carregador ligado à corrente gasta energia?

Gasta, mas pouco. Agora: se juntarmos isto a outros consumos de aparelhos que estão sempre ligados à tomada, temos algo mais “relevante”.

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Mesmo que os aparelhos estejam em stand-by, podem estar a gastar energia Pixabay

São muitas as pessoas que fazem isto: antes de irem dormir, deixam o telemóvel a carregar, de modo a que na manhã seguinte ele tenha a bateria cheia e consiga aguentar mais um dia de utilização. Há quem se questione: será que, optando por esta solução, os nossos carregadores passam a noite inteira a consumir energia, mesmo depois de os telemóveis estarem já completamente carregados?

Especialistas dizem ao PÚBLICO que o consumo é muito baixo, não tendo um peso relevante naquela que é a factura energética. Dito isto, salientam também que, se juntarmos este a outros consumos similarmente irrisórios, de repente ficamos com um pequeno conjunto de gastos que valerá a pena pensarmos em eliminar.

Pedro Nunes, da associação ambientalista Zero, esclarece que “os equipamentos com bateria têm um descarregamento residual, que vai acontecendo sempre”. O especialista diz isto para explicar que os carregadores dos nossos telemóveis, mesmo quando estes já estão com a bateria cheia, estão “sempre em modo de alerta”. As baterias da maior parte dos aparelhos modernos deixam de carregar quando estão cheias, mas o carregador volta a alimentar o telemóvel quando a carga cai para os 99%.

Isto significa que, mesmo após o carregamento propriamente dito, continua a haver um consumo de energia. Não que este seja imenso, realça Pedro Nunes. Enquanto a carga ainda está a chegar aos 100%, o consumo do carregador fixa-se nos cinco a dez watts de energia, estima. Depois de o telemóvel se encontrar já totalmente carregado, o carregador começa a “funcionar a meio gás”, caindo o consumo para os “dois a três watts” (já agora: se um carregador estiver ligado à tomada sem estar conectado a um aparelho, o valor ronda os 0,5 watts, de acordo com o especialista da Zero).​

O gasto é bastante pequeno, admite. “Se eu tiver um equipamento a consumir 1000 watts (um aquecedor a óleo, por exemplo), ele terá, ao final de uma hora, gasto um quilowatt-hora. O custo disso são mais ou menos 20 cêntimos (claro que isto varia consoante o fornecedor de energia). Comparativamente, dois a três watts são uma coisa muito baixinha, mesmo irrisória.”

Consumos fantasma

Mas termos os nossos aparelhos ligados aos seus carregadores mais tempo do que é preciso pode levar a outros problemas. “Como o carregador vai estar sempre a assegurar que o equipamento está a 100%, haverá um carrega-descarrega constante que, ao longo do tempo, pode diminuir o tempo de vida útil da bateria”, adverte.

Miguel Sequeira, membro do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (Cense), recomenda aos donos de telemóveis com essa funcionalidade que activem a opção “carregamento inteligente”, que em tese permite prolongar o tempo de vida útil das baterias.

Também há telemóveis que dão ao utilizador a possibilidade de não os carregarem até aos 100%. “​As baterias não gostam de extremos”, explica Pedro Nunes, dizendo que, por motivos químicos, o melhor é a carga estar sempre entre os 20 e os 80-85%.

Miguel Sequeira, que é também colaborador do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), concorda com Pedro Nunes quando este assinala que deixar o telemóvel a noite toda a carregar tem um gasto de energia meramente residual. No entanto, argumenta que, se juntarmos este consumo aos de outros aparelhos que muitas vezes deixamos em stand-by (ou então que estão constantemente ligados à tomada), começamos a ter uma série de gastos pequenos que se calhar deveríamos pensar em abater.

“A box da televisão muitas vezes em stand-by, o router da Internet sempre ligado à tomada, certos electrodomésticos (como as máquinas de lavar, que por norma também ficam sempre ligadas à corrente)... Se começamos a somar isso tudo, os consumos pequenos podem tornar-se um bocadinho mais relevantes”, diz.

O investigador alude ao Menu de Renovação Verde, uma plataforma co-criada pelo Cense que visa ajudar as pessoas a tornarem as suas casas mais sustentáveis. O site inclui várias dicas sobre o uso de energia. Duas delas são “desligar mesmo os equipamentos” (ou seja, retirá-los da tomada, em vez de os deixar em stand-by) e eliminar os consumos ditos “fantasma”, que ocorrem quando os aparelhos, apesar de não estarem a funcionar, permanecem ligados à corrente.

“Esta pequena medida, conjugada com a eliminação de consumos em stand-by, pode reduzir a sua factura energética em até 11%”, promete o Menu de Renovação Verde, que ainda dá alguns exemplos de “aparelhos com consumos em stand-by” (“box, router, computador, impressora, máquina de café e equipamento de áudio, entre outros”).

Em suma: deixarmos os nossos telemóveis a noite inteira a carregar não é algo que se traduza numa factura abismal. Mas talvez possa valer a pena repensarmos a forma como nos relacionamos com as nossas tomadas.

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