Melania deixou Manolo no banco de suplentes da família Gabbiadini

Dois irmãos futebolistas, mas com carreiras bem diferentes. Neste caso, ao contrário de outros, foi a menina quem superou o menino – mesmo tendo de vencer o preconceito com raparigas futebolistas.

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Gabbiadini (de azul) em acção frente à Roma EPA/LUCA ZENNARO

O século XXI tem trazido, aos poucos, uma abertura maior às meninas que querem tornar-se desportistas — dificuldade acrescida quando eram modalidades fora do âmbito da ginástica e maior ainda no caso de desportos que envolvessem contacto físico mais duro. Em geral, as famílias não gostavam de ver as suas petizas a jogar à bola, mas há uma em que não foi bem assim. Em rigor, a família Gabbiadini até foi mais longe: não só colocou Melania a jogar futebol como a viu ter mais sucesso do que o irmão, Manolo, num desporto colectivo que durante muitas décadas era “de homens”.

Melania e Manolo, unidos pelo sangue, ambos internacionais italianos, mas com carreiras bem distintas. Neste domingo, Manolo, avançado da Sampdoria, marcou dois golos frente ao Verona, assegurando aos genoveses um importante triunfo (3-1) frente ao Verona — ambas as equipas se encontram em zona de descida, mas agora separadas por apenas quatro pontos.

Foi, de facto, um bom dia para Manolo, mas os bons dias não têm sido assim tantos. Sejamos justos, porém: quantos jovens não dariam tudo para terem uma carreira como a de Gabbiadini? Muitos, seguramente. Falamos de um internacional italiano com percurso consolidado na Série A e até uma aventura — sem sucesso — na Liga inglesa.

Ainda assim, aos 31 anos, o avançado está no terço final de uma carreira bem abaixo do que se projectou. Sem títulos e, sobretudo, sem especiais momentos de estrelato.

Quando apareceu, Gabbiadini era um jogador de quem se esperava muito. Deu nas vistas numa selecção italiana que contava com nomes como os de Borini, Insigne, Immobile e Verrati e esteve no Euro sub-21, em 2013. A Juventus chegou a tê-lo nos quadros por via dos já triviais acordos de co-propriedade de jogadores no futebol italiano, mas nunca o levou muito a sério desde que o partilhou com a Atalanta.

Pela Sampdoria (que acabou por ficar com os 50% do passe que pertenciam à Atalanta), pelo Nápoles, pelo Southampton e novamente pela Sampdoria, Gabbiadini nunca foi a estrela. Foi quase sempre bastante útil , e titular habitual em muitas dessas temporadas, mas havia sempre alguém mais relevante.

Apesar de ter começado a carreira como ponta-de-lança, o italiano, até por ter bastante técnica no pé esquerdo, jogou muitos dos minutos do seu percurso a partir do corredor direito. Não só por isso, mas também por isso, acabou por raramente ter registos goleadores de grande relevo — só duas vezes ultrapassou a dezena de golos numa temporada.
Ainda que tenha feito 13 jogos pela selecção italiana, nunca foi um jogador de primeira linha nas escolhas dos seleccionadores e muito menos alguém ao nível do que se previa.

A irmã mais velha, Melania, que Manolo assume ter sido uma inspiração e um exemplo, pode contar uma história diferente. Dirão os mais cépticos que ser grande no futebol feminino será mais fácil do que no masculino, mas o facto é que Melania Gabbiadini se tornou uma das jogadoras mais proeminentes do futebol europeu.

Fez mais de uma centena de jogos pela selecção e, sobretudo, fez parte das convocatórias em quatro Europeus, figurando na equipa ideal de um deles. Foi também quatro vezes a jogadora do ano na Série A, quase sempre pelo Verona, e faz parte do Hall of Fame do futebol italiano – honra que, no sector masculino, apresenta nomes como Maradona, Maldini, Baggio, Totti, Ronaldo ou Batistuta. E que não terá, por certo, Manolo Gabbiadini.

Tal como o irmão, Melania também actuou no ataque, destacando-se como ponta-de-lança e ala. Ambos podem estar orgulhosos das carreiras que fizeram, mas Melania, pelo que conseguiu na vertente feminina, deixou Manolo no banco de suplentes da família Gabbiadini.

Em Portugal, o caso mais famoso e comparável com este é o dos Dantas. E ainda está por ver quem vai ficar no banco: Joana, atacante ligada ao Sporting, ou Tiago, médio ligado ao Benfica. Ou nenhum.

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