Afinal, Fabio Borini sabe o que são golos

Foi um jovem promissor quando apareceu, mas este italiano tem tido uma carreira modesta na arte de marcar golos. Agora, é feliz na Turquia, num labor que nunca tinha sido o seu - pelo menos não assim.

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Fabio Borini BSR Agency

Em 2013, Fabio Borini foi vice-campeão da Europa sub-21 e esteve no melhor “onze” do torneio. À data, já tinha quatro temporadas de sénior, mas ainda era um diamante em bruto, que os italianos apontavam como um futuro avançado de topo a sair da equipa onde estavam Verrati, Insigne ou Immobile.

Mas foram precisos 14 anos – ou dez, se usarmos a bitola desse Euro sub-21 – para o avançado dominar a arte do golo.

Borini marcou neste sábado no triunfo do Karagumruk na Liga turca (a equipa segue em nono lugar) e aos 31 anos, leva 14 golos na temporada, pelo clube para o qual se transferiu em 2020, depois de uma carreira pouco profícua nos sucessos colectivos e, sobretudo, nos individuais.

É certo que Borini nem sempre jogou como avançado, porque alguns treinadores, percebendo que ele marcava pouco, usavam-no como ala ou até mesmo como médio-ofensivo. E dava-se a famosa “pescadinha de rabo na boca”: como não marcava, Borini não era colocado a ponta-de-lança e como não era colocado a ponta-de-lança não marcava.

Mas sejamos justos: os treinadores que o tiraram de perto da baliza adversária não o fizeram por embirração.

Esta é a 14.ª temporada de Borini no futebol sénior e está a ser a primeira em que superou os dez golos. Nunca tinha acontecido algo assim na vida do italiano e este é um facto difícil de contrariar.

Quer ser arquitecto

Borini tem tido uma carreira com contornos estranhos, mas também a nível pessoal tem particularidades incomuns.

Trata-se de alguém que, quando acabar a carreira, quer ser arquitecto. E com um objectivo muito específico. “Durante o confinamento, estudei para ter o meu diploma de geometria. Depois do futebol, sonho estudar arquitectura. A minha ideia é desenhar centros de treino de futebol que sejam funcionais para o clube, o staff e os jogadores”, contou ao Calcio e Finanza, em 2020.

Depois, Borini é fã do Borussia Dortmund. Por que motivo um italiano de Bolonha apoia um clube alemão desde criança? Segundo o que disse em 2017 ao site oficial do AC Milan, porque a sua cor preferida é o amarelo e desde cedo diz que se sentia atraído pelo amarelo do Borussia. Quem nunca apreciou um clube por causa do seu equipamento? Borini não estará sozinho, seguramente.

No plano desportivo, os detalhes curiosos não são menos relevantes. Borini faz parte daquele lote de jogadores que, um dia, chocaram o mundo com uma transferência.

Vejamos: levava quase dez anos de carreira, com falhanços no Chelsea, no Swansea, no Liverpool e no Sunderland. No último ano de Sunderland marcou dois golos e a equipa desceu de divisão. Onde foi parar Borini? Ao AC Milan.

Na altura entrou até naqueles tops jocosos de transferências incompreensíveis, como os casos de Bebé para o Manchester United ou Julien Faubert para o Real Madrid.

Turquia como escape

Borini, que celebra os golos a morder a mão, explicou que a ideia surgiu no Chelsea, no início da carreira. “Dispensaram-me e, para lhes provar que nunca iria desistir, comecei a celebração do guerreiro que tem a faca entre os dentes e que nunca desiste”.

O problema é que Borini não tem mostrado esta celebração assim tantas vezes. Tanto assim é que, um dia, no Sunderland, os adeptos disseram que ele não merecia vestir aquela camisola. E Borini, como resposta, após esse jogo com o Middlesbrough, foi entregar a camisola a um adepto... do “Boro”.

Também no Liverpool deixou um “gostinho” amargo, dado que chegou a dizer, anos depois de sair do clube, que falhou não por sua culpa, mas por culpa de “outra pessoa” – não concretizou, mas deduz-se que falasse do treinador Brendan Rodgers.

Numa carreira em que até já actuou como lateral de um 3x4x3, no AC Milan, o italiano foi para a Turquia em 2020, para uma recta final da carreira na qual pudesse ter um bom salário, além de ser um foco da equipa. E resultou.

É certo que não chegou à dezena de golos nas duas primeiras temporadas, mas nesta, que ainda vai a pouco mais de meio, já tem 14 – além de sete assistências.

O que está a acontecer por lá? Bom, Borini não tem especial visibilidade. O próprio Karagumluk não tem grande mediatismo. Mas, pelo menos, o italiano tornou-se goleador. E para quem no início da carreira era apontado como futuro craque italiano, poder, hoje, ser um goleador já deve ser uma satisfação e tanto. Mesmo que seja num clube obscuro da Liga turca.

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