Mais de 300 detidos em França nos protestos da noite contra a reforma das pensões

Deputados do partido de Macron pedem protecção depois da aprovação por decreto da polémica decisão que aumenta a idade legal da reforma de 62 para 64 anos.

Foto
Incêndio provocado durante os protestos junto à Assembleia Nacional, em Paris EPA/Mohammed Badra

Quando ficou confirmado que o Governo ia aprovar a reforma de pensões sem uma votação final na Assembleia Nacional, já milhares de pessoas caminhavam para concentrações em dezenas de cidades de França. Em todo o país, 310 pessoas foram detidas na sequência da contestação, incluindo 258 na capital, e o Ministério do Interior denuncia “actos de violência”, referindo ataques a delegações do Governo e manequins com figuras de ministros e do Presidente incendiadas em Dijon.

Depois da noite de quinta-feira, a manhã de sexta trouxe já novos protestos, com centenas de pessoas a bloquearem a circulação nas periferias de Paris, Renne e Havre.

A reforma tem motivado as maiores manifestações nacionais em várias décadas e enfrenta a oposição dos partidos à esquerda e à direita do partido presidencial, Renascimento. O facto de ter acabado por ser aprovada por decreto vai alimentar ainda mais a contestação: esta sexta-feira ficará ainda marcada pela entrega na Assembleia de várias moções de censura, incluindo uma da União Nacional (extrema-direita), de Marine Le Pen, e um texto “transpartidário” que contará com a assinatura de deputados de diferentes formações.

A primeira-ministra, Élisabeth Borne, queria evitar recorrer ao 49.3 para fazer avançar a legislação que aumenta a idade legal da reforma de 62 para 64 anos, mas concluiu que seria impossível chegar à maioria absoluta, com dezenas de deputados contra e indecisos nas bancadas que apoiam o Governo. O 49.3 é um instrumento previsto na Constituição que permite ao executivo impor uma lei, e que só pode ser usado uma vez por legislatura em textos não económicos (a maioria das vezes é usado para medidas do Orçamento).

As tensões em redor desta reforma são tantas que a chefe da bancada parlamentar do partido de Emmanuel Macron, Aurore Bergé, escreveu ao ministro do Interior, apelando “aos serviços de Estado” e pedindo-lhe que assegure “a protecção dos parlamentares” da maioria. “Recuso ver os deputados do meu grupo, ou quaisquer deputados da nação, com medo da sua expressão individual, medo de votarem livremente porque temem represálias”, lê-se na missiva divulgada pela AFP.

“Este debate sobre as reformas é de uma enorme violência. Cabeças de ministros em bolas de futebol ensanguentadas, efígies do Presidente da República, da primeira-ministra, de Olivier Dussopt [ministro do Trabalho] – que fez um trabalho formidável e tranquilo durante este período –, queimadas na praça pública. Muitos insultos”, afirmou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, interrogado pela rádio RTL. “O número de queixas apresentadas pelos deputados nas últimas semanas, independentemente do seu voto, é muito grande.”

Sugerir correcção
Ler 5 comentários