Um novo Estrangulador de Boston revela quem deslindou o crime: duas jornalistas

Filme de Matt Ruskin estreia-se directamente na Disney+ na próxima sexta-feira. Keira Knightley e Carrie Coon interpretam as repórteres que nos anos 1960 forçaram a polícia a fazer melhor.

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Carrie Coon e Keira Knightley Claire Folger

Este não é um remake do filme O Estrangulador de Boston (1968), de Richard Fleischer. Não é também, necessariamente, um filme sobre o estrangulador de Boston, o assassino em série que matou 13 mulheres na cidade norte-americana entre 1962 e 1964. Estrangulador de Boston, que se estreia sexta-feira na Disney+ (e nos EUA, no mesmo dia, na plataforma Hulu, pertença do mesmo grupo de media), é um filme sobre a investigação de duas jornalistas na década de 1960 em redacções e, como disse a protagonista Keira Knightley numa conferência de imprensa virtual na semana passada, “é uma canção de amor para as mulheres que são jornalistas de investigação”.

Os principais nomes do elenco —​ Knightley, Carrie Coon, Alessandro Nivola e Chris Cooper — e o autor e realizador Matt Ruskin estiveram numa conferência de imprensa para falar a jornalistas de todo o mundo sobre o filme, feito para streaming e vindo do interesse do autor em virar a câmara para as responsáveis pelo baptismo do homicida e pelas primeiras ligações feitas entre os crimes, e que começaram a ser noticiadas em Boston, sobre o conjunto de mulheres estranguladas e deixadas com collants enrolados como um laço ao pescoço.

O título é o mesmo, mas logo na lista de actores as diferenças saltam à vista entre o filme de Richard Fleischer, feito poucos anos após os crimes, e este novo projecto: as estrelas eram Tony Curtis, Henry Fonda e George Kennedy; no filme actual são Knightley e Coon as protagonistas. O filme de 1968, baseado num livro de 1966, é uma história em que a polícia e a sua investigação são uma linha quase recta. Aqui, e para não estragar o fim da história nem sequer o da História, não é bem assim.

“É uma forma muito interessante de contar a história de um assassino em série, através do ponto de vista destas duas jornalistas. E o facto de ser um caso sobre o qual a maioria das pessoas não sabe que foram duas mulheres a dar a notícia em primeira mão e que foram como que apagadas da história do caso”, explicou Knightley, actriz britânica fadada a interpretar papéis do passado recente ou distante. “Foi o mais chocante para mim que estas mulheres tenham sido tão essenciais a deslindar o caso, forçando os departamentos de polícia a partilhar informação”, completa Coon.

Carrie Coon, que interpreta o papel da jornalista Jean Cole, descreve Matt Ruskin como “um cineasta profundamente moral. E sabia que o interesse dele nesta história era feminista”, acrescenta. Cole era uma jornalista do diário Record-American que tinha mais latitude na sua profissão, cobrindo áreas na área da saúde. Loretta McLaughlin estava no mesmo jornal, mas sonhava com mais —​ “Quando me tirarem da secção de lifestyle”, diz a certa altura do filme, enquanto colecciona recortes de jornal de pequenas notícias de crimes cometidos contra mulheres anónimas.

Quando identifica uma ligação entre eles, fala com o seu chefe de redacção, Jack MacLaine, interpretado por Chris Cooper. “Estes homicídios. São desconhecidas”, diz o jornalista. “São as pessoas que lêem o teu jornal. Classe trabalhadora”, riposta Loretta. É assim que se começa a quebrar a fronteira invisível para a jornalista e que a investigação começa. Matt Ruskin, cujo filme Crown Heights recebeu o prémio do público no Festival de Sundance em 2017, começou a interessar-se pela história por esse ângulo, o das mulheres envolvidas no caso — não no voyeurismo sobre as vítimas ou na fascinação pelo serial killer.

“Uma grande parte do filme é sobre identidade e quem é o assassino, por isso era importante deixar espaço para as zonas indefinidas”, disse Ruskin na mesma conferência de imprensa. “E tinha uma opinião muito firme sobre não retratar violência de forma gratuita e por isso muitos dos ataques acontecem fora do ecrã.”

Depois, há as coincidências da vida. Quando começou a ler mais sobre as jornalistas, isso levou-o ao Facebook para tentar encontrar alguns dos seus filhos. Uma das filhas de Cole tinha uma fotografia na rede social abraçada a uma velha amiga do realizador. A ligação fez-se aí: Jean Cole era avó da amiga de Ruskin e assim ganhou acesso à família Cole e McLaughlin e também aos arquivos dos seus trabalhos e do caso.

A pesquisa de Chris Cooper, por exemplo, levou-o até Eileen McNamara, jornalista premiada de Boston que teve Loretta McLaughlin como mentora — nomeadamente ensinando-a a desafiar pessoas como a personagem de Cooper, desinteressadas em histórias como a do homicida que matava “mulheres que ninguém conhecia”.

Estrangulador de Boston é um thriller da 20th Century Studios, propriedade do gigante Disney, e produzido por Ridley Scott, entre outros. O filme surge acompanhado pelo podcast da ABC (também detida pela Disney) Truth and Lies: The Boston Strangler, que em três episódios serve como peça de acompanhamento ao filme recorrendo aos arquivos do canal televisivo e a entrevistas aos familiares das pessoas envolvidas no caso.

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