Morreu Américo Duarte, primeiro deputado a discursar na Assembleia Constituinte

O antigo deputado, eleito pela UDP, morreu nesta segunda-feira, aos 80 anos.

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Américo Duarte foi o primeiro deputado da UDP na Assembleia Constituinte RUI GAUDÊNCIO

Américo Duarte, o primeiro deputado a discursar na Assembleia Constituinte, eleita em Abril de 1975 para redigir a Constituição, morreu nesta segunda-feira, aos 80 anos, ao princípio da tarde, vítima de doença, no Hospital Garcia da Orta, em Almada. A morte de Américo Duarte foi confirmada ao PÚBLICO pelo major Mário Tomé.

Eleito pela União Democrática Popular (UDP), Américo Duarte foi deputado constituinte aos 33 anos, mas apenas durante cinco meses. A sua vida política foi curta, mas muito activa. A sua estreia no Parlamento acontece no dia 3 de Junho de 1975. Mais tarde, é substituído por Afonso Dias e regressa ao seu posto de trabalho na Lisnave.

Na altura em foi para o Parlamento, Américo dos Reis Duarte, nascido em Lisboa, em Outubro de 1942, era o único deputado na Europa eleito por um partido de esquerda revolucionária. Américo Duarte só entrou para a Constituinte porque o cabeça de lista pela UDP, João Pulido Valente, renunciou ao mandato antes de tomar posse. Em declarações ao PÚBLICO, o deputado chegou mesmo a confessar: “Nem sabia que era o segundo da lista. Não sabia o que era uma Assembleia Constituinte. Acredita nisto?”

Aos 11 anos, começou a trabalhar na antiga Sorefame, onde foi serralheiro e onde se tornou simpatizante do PCP. Foi preso por andar à pancada com um sargento que batia nos soldados e um dia chegou a sua vez de levar uma sova e, a partir daí, passou a ter a alcunha de “boxe”. Um dia decidiu incendiar os carros todos que estavam na oficina em Queluz e o castigo teve um sabor amargo: arcou com uma comissão de serviço em Angola, em 1966. A partir desse episódio, passou a ser conhecido popularmente pelo “​Liberdade de Queluz”​.

Participou nas lutas e greves operárias em pleno regime fascista e depois da Revolução do 25 de Abril foi eleito para a comissão de trabalhadores do estaleiro naval da Lisnave, sendo um dos organizadores da grande manifestação operária de 12 de Novembro de 1974.

Numa entrevista ao PÚBLICO, em 20 de Março de 2022, Américo Duarte conta que viveu “intensamente” o 25 de Novembro, tendo participado na resistência possível ao golpe. “Na manhã do 25 de Novembro, ao sabermos das movimentações militares, principalmente as encabeçadas pelos comandos do Jaime Neves, desloquei-me à Calçada da Ajuda, junto do Quartel da Polícia Militar, com João Pulido Valente e alguns operários da Lisnave. Abrimos valas na via para impedir que os blindados alcançassem o quartel, preparando a sua defesa, em conjunto com o coronel Campos Andrada, o major Mário Tomé e forças daquela praça. Houve um tiroteio que só parou porque o Tomé deu o corpo às balas, saindo desarmado da PM e apelando para que se parasse com aquilo.”​

No dia 7 de Janeiro deste ano, Américo Duarte foi homenageado por um grupo de amigos e camaradas. A homenagem em que o antigo deputado participou decorreu na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, e reuniu meia centena de amigos, onde recebeu uma medalha comemorativa, disse ao PÚBLICO fonte próxima do antigo parlamentar.

O funeral de Américo Duarte realiza-se na quinta-feira pelas 15h30 no cemitério da Quinta do Conde, em Lisboa.

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