Um Bairrada é sempre um Bairrada

Já todos conhecem a riqueza dos tintos desta região e da sua casta rainha, a Baga, importa também dar uma oportunidade aos brancos bairradinos. Estão entre os melhores vinhos que têm surgido por cá.

Foto
Diogo Lopes escreve no Terroir sobre vinhos diz serem a combinação perfeita entre "castas, solo argilo-calcário e influência atlântica" Tiago Lopes

Declaração de interesses. Estas sugestões estão fortemente contaminadas por um gosto, dependência e entusiasmo crónicos em torno do maravilhoso património de variedades brancas portuguesas e dos vinhos de qualidade Mundial que daí resultam. Falo daqueles vinhos que nos trazem a combinação perfeita: castas, solo argilo-calcário e influência atlântica.

Kompassus Private Collection branco 2017

Em Portugal, a Bairrada é um dos paraísos dos verdadeiros vinhos de terroir. A combinação dos solos argilo-calcários com o clima e as suas castas permite criar vinhos verdadeiramente únicos e diferenciadores, emblemas genuínos da terra onde nascem. Um Bairrada é sempre um Bairrada. E se já toda a gente conhece bem a riqueza dos tintos desta região e da sua casta rainha, a Baga, importa também dar uma oportunidade aos brancos bairradinos, que estão entre os melhores vinhos que têm surgido em Portugal.

Enófilo que se preze não escapa a ter uma boa parte da garrafeira reservada aos Bairrada, mais novos ou mais antigos, muitas vezes verdadeiras pérolas a preços interessantíssimos. Mas nesta região temos que particularizar os vinhos Kompassus, obras realmente especiais, à imagem do seu criador, João Póvoa, um conhecido cirurgião oftalmologista que é, igualmente, um bairradino com uma enorme paixão pela viticultura. Importa ser claro, João Póvoa é um dos grandes vignerons portugueses e os seus vinhos genuínos refletem mesmo o carácter da sua pessoa e da região que o moldou.

Este Private Collection é um lote com duas castas, o Arinto (casta rainha das variedades brancas do nosso país) e o Cercial (casta bairradina que me tem impressionado bastante). Temos aqui um vinho bem fiel à sua origem, com uma frescura impressionante e uma vivacidade que não deixa transparecer os cinco anos de estágio. Um vinho muito fino, mineral e com uma acidez que nos faz salivar. E uma pérola que vai revelar-se mais e mais, consoante os anos de evolução em garrafa. No imediato já estou a imaginá-lo a bater-se com os queijos e com aquela perna de presunto. Tem um PVP de 29 euros.

Gerónimo 2021

Quando pensamos nos vinhos da Península de Setúbal vêm logo à ideia os exemplos de sucesso do seu Moscatel e dos tintos de Castelão. Mas a região tem segredos por revelar, sobretudo em zonas muito particulares, como aquela onde está a Herdade de Portocarro — já bem abaixo da linha de Tróia, em plena margem do Rio Sado e a caminho do Alentejo.

Aí estamos numa região onde a influência do mar é muito presente e onde um agrónomo e artesão dá azo à sua criatividade para criar uns vinhos muito particulares, com a sua assinatura de produtor: José Mota Capitão.

Sim, a Herdade do Portocarro ainda é muito mais do que os seus fantásticos campos de arroz carolino e trigo barbela. É respeito pelo ecossistema e pelas melhores práticas agrícolas. E tem uns 20 hectares de vinha onde nascem vinhos especiais, como este Gerónimo encantador. Tinha que ser, sou um obcecado por brancos e este é um lote de duas castas nacionais, o Galego Dourado e a Sercial (nada a ver com a Cercial — e sim, insisto, como é incrível e diverso o mundo das castas brancas nacionais). O Gerónimo é um vinho cheio de classe, com nariz intrigante, profundamente mineral. Fresco na boca e com um final salino, mostrando bem a região de origem. Acredito que acompanha muito bem pratos de bacalhau. Tem um PVP de 30 euros.

Este artigo é publicado no âmbito de um desafio lançado pelo Terroir a vários enólogos para escreverem sobre O Vinho dos Outros

Sugerir correcção
Comentar