A borga dos Erasmus

Fui obrigado a desenrascar-me. Tive de colocar a vergonha de lado e apresentar-me às pessoas que viriam a ser a minha família durante aqueles seis meses. Mudou a minha forma de estar e de ser.

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Erasmus Manuel Roberto

Quando falamos do programa Erasmus, as primeiras frases que ouvimos são “isso é mais fácil do que cá” e “esse pessoal só vai para a borga”. A verdade é que nada disto está errado, pelo menos em alguns casos, mas este programa dá-nos muito mais do que esta banalização que todos falam.

Quando vos falo que os Erasmus não são só “borga”, digo-vos também que ela existe, e muito, mas também vos digo que a actividade principal desse período é a saída da zona de conforto. Esta, sim, torna-se a nossa actividade diária. Fazer coisas que não faríamos em casa, no nosso país. Todos os dias são diferentes, todos os dias nos vemos em situações que nos desafiam, que nos fazem crescer.

Sou estudante universitário em Lisboa e tive a possibilidade de estudar um semestre em Praga, na República Checa. A experiência que tive por lá foi muito mais enriquecedora do que festas e passeios, foi uma experiência que toca em temas de evolução pessoal e profissional. E quando ouvirem algum estudante que tenha ido neste programa de mobilidade, lembrem-se que isto é real.

No meu caso, coloquei os pés em terras checas sem ninguém ao meu lado, sem ninguém conhecido na cidade e, por isso, fui obrigado a desenrascar-me. Tive de colocar a vergonha de lado e apresentar-me às pessoas que viriam a ser a minha família durante aqueles seis meses. Fui obrigado a sair de casa todos os dias para conhecer aquela que seria a minha cidade durante aquele tempo. Agora, passado um ano desde a minha partida, digo-vos com todas as letras que foi das melhores experiências que tive em toda a minha vida. Sei que mudei a minha forma de estar e de ser, mas também sei que ajudou a delinear aquilo que quero para o meu futuro.

Se estás a ler este texto, coloca-te na posição de quem vai. Pensa que hoje é o dia da tua partida para um país onde vais ficar seis meses ou um ano. Imagina-te a despedir da tua família e amigos. Imagina que só os verás outra vez daqui a meio ano. Imagina que estás a mudar completamente a tua vida para teres esta experiência. Qual é a sensação? É complicado de imaginar? Vias-te nessa posição? A verdade é que quem vai, vai com toda a bagagem feita, e todos sabem o que os espera ou, pelo menos, já estão mentalizados para essa ausência. Mas não é por isso que se torna mais fácil. Se estás a pensar em ir, digo-te que vai ser difícil, que os primeiros dias vão ser complicados, mas também te digo que quando te habituares à cidade e à ideia vais aproveitar cada segundo como se fosse o último.

O programa Erasmus dá a possibilidade aos estudantes universitários de viverem uma experiência de adaptação, de desafio e de crescimento. De conviverem com pessoas de culturas distintas, de viverem num país diferente, de se interligarem com uma situação fora das suas zonas de conforto, de viverem o verdadeiro espírito de ser europeu. Afinal de contas, este é o maior propósito da criação do mesmo: incentivar os estudantes a conhecerem as diferentes realidades da Europa, de se interligarem com outras culturas e de se sentirem europeus.

O Programa de Erasmus é, e tem sido desde a sua criação, um dos maiores propulsores do espírito europeu e da identificação dos indivíduos como europeus. Sendo visto por muitos como um dos maiores, e melhores, processos de integração da União Europeia. Que assim continue a ser, e que todos os estudantes universitários tenham a possibilidade de o realizar.

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