Cavalos de Corrida, a série que persegue o sonho português na RTP

Nos anos 1980 da nova série da RTP1, Portugal está em pulgas para comprar casa — e hoje também. Vertiginosa e sentida, sobre pequenos e grandes crimes, estreia-se quarta-feira.

Foto
Ukbar Filmes

O actor Miguel Guilherme recebeu a proposta para fazer a nova série da RTP1 Cavalos de Corrida e mal leu os primeiros guiões percebeu: “Eu tenho de fazer isto”. Este pode ser um cartão-de-visita para a série de André Santos e Marco Leão que se estreia quarta-feira às 21h; o outro é dizer que este é um voo directo para 1981, Portugal em pulgas e com um serralheiro e a namorada a fazer pequenos assaltos para cumprir o seu grande sonho — uma bela casa. Mas Miguel Guilherme complica-lhes o jogo, sobe a parada e nasce um gangue.

Serão três as séries de ficção nacional ou co-produção portuguesa que a estação pública terá no ar quando se estrear Cavalos de Corrida — e não, o tema dos UHF não está no genérico, mas é um símbolo. “As nossas personagens são, todas elas, cavalos de corrida”, explica Marco Leão ao PÚBLICO, “e só vão parar quando chegarem à meta. Passem por cima de quem tiverem de passar. Mas com consciência.”

Com um elenco encabeçado por Tomás Alves, Teresa Tavares e Miguel Guilherme, a quem rapidamente se juntam Filipa Areosa, Maria João Pinho, João Vicente e Soraia Chaves, Cavalos de Corrida serão oito episódios sempre a abrir. Pelo menos a julgar pelo primeiro, apresentado à imprensa. “Queremos que a série seja explosiva”, diz André Santos, que divide com Marco Leão a autoria da história, dos argumentos e a realização da nova entrada na lista de séries nacionais com pedigree de cinema.

Foto
Ukbar Filmes

A dupla realiza curtas-metragens há mais de 15 anos, orbitando em parte no que vive no círculo próximo da família e dos amigos, e depois da série Luz Vermelha, revive as memórias da década em que nasceu — ambos são da safra 1984. Cavalos de Corrida não é assim tão diferente para André Santos e Marco Leão que, da religião à liberdade, vão beber a todos os que os rodeiam para dar coração a esta série.

André Santos fala do Opel Corsa dos pais, da música, da iconografia, faz os paralelos da intervenção do FMI na época e de há uma década e de como “as coisas não estão assim tão diferentes. Quisemos olhar para o passado, mas reflectir sobre o presente, exactamente o sítio onde nós estamos agora — uma crise de habitação gigante”, aponta. “A coisa que eu mais queria era conseguir comprar uma casa, que é exactamente o que os nossos protagonistas, Domingos (Alves) e Olinda (Tavares), mais querem.” Eles assaltam casas e são aliciados por Miguel Guilherme, o misterioso Orlando, a roubar algo mais.

Esta é uma série sobre um sonho, mas de olhos bem abertos para o crime e para as competências actuais de uma boa história em televisão. Ritmo, fotografia, câmara com intenções, pragmatismo — não podiam fazer um filme de acção, cheio de explosões. “Por isso temos que pensar em algo engenhoso e inteligente”, explica Marco Leão, com expectativas orçamentais mais baixas. Um heist movie, sobre um golpe, mas em série?

Foto
Tomás Alves e Teresa Tavares FAYA/ukbar filmes

“[As personagens] não são o estereótipo de super-humanos, perante o qual a vida não tem valor”, explica Marco Leão. Fala também de westerns, mas interessa-lhe falar de “crimes colectivos, sobre questões como a paternidade, como o amor”, várias histórias a disparar, literalmente, para várias direcções narrativas.

Miguel Guilherme, momentos antes de se sentar para a antestreia do episódio num espaço próximo do Panteão Nacional, em Lisboa, fala da mensagem que começou tudo isto. “Junto ao e-mail a convidar-me, ainda sem cachê nem nada disso, vinham os argumentos dos três primeiros episódios e uma carta de intenções de duas pessoas” que não conhecia, recorda ao PÚBLICO, e para as quais agora só tem elogios. “A escrita era diferente”, enfatiza. Resiste a explicar em quê. “Mais imaginativa”, lá acede, “não tem aquela coisa ‘imitar Hollywood’”. Louva a sucessão de cenas e os diálogos. “Li os três de uma assentada. É bom sinal.”

Foi assim que se viu como um mentor de larápios. “Todos eles são pequeninos ladrões”, até que Orlando chega para os juntar e, com a tentativa de assassinato ao Papa João Paulo II e a esperança da entrada na CEE (actual União Europeia) a emoldurar o enredo, cometerem o grande crime de sonhar alto. Talvez de mais. O seu destino aos “spoilers” (revelações sobre o argumento) pertence, mas que o serralheiro e a bonita vigarista, a aspirante a cantora e o homem com dois empregos, a mulher que conta os dias para ovular e a sobrevivente de violência doméstica correm riscos, lá isso correm.

Produzida pela Ukbar Filmes e com música de Xinobi, Cavalos de Corrida também estará disponível na plataforma de streaming gratuita RTP Play, todas as quartas-feiras às 12h.

Sugerir correcção
Comentar