Falar com um psicólogo sem mostrar a cara: a BlindTalk quer acabar com o estigma

A plataforma, criada por dois psicólogos, permite ter conversas sem mostrar a cara para fazer perguntas e perceber de que forma é que a terapia pode ajudar.

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O objectivo da plataforma é ajudar a “população portuguesa a ultrapassar o estigma” da saúde mental Getty Images

E se pudesses ter uma primeira conversa com um psicólogo de forma anónima? BlindTalk é a plataforma que te permite ter sessões anónimas com psicólogos de várias especialidades, para se conhecerem, tirar dúvidas, perceber de que forma é que a terapia pode ajudar. Sem julgamentos, à distância e sem mostrar a cara, se assim o quiseres.

Acedendo à plataforma, pode escolher-se entre uma consulta mais curta, na modalidade anónima, ou mais longa, com ambos os intervenientes de câmara ligada. A seguir, escolhe-se o profissional, com base na área de intervenção ou dos sintomas descritos.

A plataforma foi criada por dois psicólogos portugueses, Gonçalo Neves e Filipa Canêlo Neves, em 2020, já depois do início da pandemia. O casal de psicólogos, que já tinha experiência com consultas à distância, encontrou no anonimato uma oportunidade: “Uma vez, houve uma pessoa que não me deixou ver a imagem dela nas primeiras sessões via Skype. A pessoa tirou as dúvidas dela e só depois é que se deixou ver”, recorda Gonçalo Neves.

Também notaram que “havia pessoas que marcavam a consulta e depois não apareciam” ou que diziam “demorar muito tempo até darem o primeiro passo”.

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Gonçalo Neves e Filipa Cancêlo Neves, o casal de psicólogos que fundou a BlindTalk DR

A ideia de permitir que as primeiras sessões sejam feitas sem que a pessoa que procura a ajuda tenha de mostrar a cara pretende ajudar a “população portuguesa a ultrapassar o estigma” e “trazer alguma literacia sobre o que é a psicologia, se pode ou não ajudar” em cada caso.

“Nós sentimos essa dificuldade de as pessoas não perceberem o que é [a psicologia] e isso afasta-as logo à partida”, continua Gonçalo. “Então arranjámos maneira de passar essa informação às pessoas e de fazer um meio caminho para que elas entendam o que é antes de haver uma maior exposição.”

As sessões anónimas duram 30 minutos e custam 25 euros, com um psicólogo à escolha do utilizador – e há cerca de 20 psicólogos na plataforma, todos eles registados na Ordem dos Psicólogos. Os familiares e amigos podem ainda comprar vouchers de consultas anónimas e oferecer a alguém.

Duas ou três sessões sem mostrar a cara “são suficientes”

Depois de se quebrar o gelo, é altura de ligar a câmara. “Só se trabalha com a mesma pessoa duas ou três vezes no máximo dos máximos de forma anónima, porque consideramos que é mais do que suficiente para se chegar a um entendimento, para nos podermos conhecer mais a fundo. De outra forma seria perverter a ideia de terapia”, diz Gonçalo Neves.

Algumas vezes as sessões anónimas servem para a pessoa concluir que “só precisava de um bocadinho de esclarecimento e que não precisa de uma exposição maior”, admite. Mas uma parte considerável avança para as sessões em que ambos os lados mostram a cara.

As sessões seguintes já são mais longas – 50 minutos — e o preço varia consoante o psicólogo, mas a média ronda os 40 ou 45 euros por sessão, de acordo com os fundadores da plataforma.

As reacções que têm tido são positivas e a procura, essa, tem crescido, tanto do lado dos utilizadores quanto dos psicólogos inscritos, “não só em Portugal, mas também na diáspora”.

“O ponto que tem pautado a nossa carreira é procurar cada vez mais novas formas de ajudar as pessoas e chegar a pessoas diferentes. Queremos que as pessoas percebam que podem ser acolhidas e que os seus sintomas são muito importante e devem ser respeitados”, conclui Gonçalo Neves. “É essa a diferença que queremos.”

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