Vem aí o Super Bowl: histórico e a história do costume

Pela primeira vez no jogo que decide o campeão da NFL, os “quarterbacks” das duas equipas são negros. O que não muda é a economia do evento. Um exemplo: 30 segundos de publicidade custam sete milhões.

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O Super Bowl LVII será em Glendale, no Arizona Reuters/Kirby Lee

O grande mosaico desportivo norte-americano tem uma dose generosa de grandes dias para todos os gostos: as finais da NBA, a final do US Open, o Masters de golfe, as 500 milhas de Daytona, a “final four” do basquetebol universitário, a “World Series” do basebol, a Stanley Cup do hóquei no gelo, ou a maratona de Nova Iorque. Todos eles perdem para o Super Bowl, o jogo que decide o campeão da National Football League (NFL), que neste domingo terá a sua 57.ª edição (ou, em numeração romana como é tradição, a edição LVII), entre os Kansas City Chiefs e os Philadelphia Eagles.

Será o arraial do costume em que o país vai parar para comer e beber enquanto vê o jogo mais importante do futebol americano, as audiências televisivas serão altas (em Portugal, passa na Eleven Sports, que terá o sinal aberto, a partir das 22h30), o preço de publicidade será alto, haverá entretenimento musical ao intervalo e múltiplas narrativas para seguir ao longo do jogo. Mas também se vai fazer história nesta Super Bowl LVII, que se joga em Glendale, no Arizona.

Pela primeira vez, os “quarterbacks” titulares dos dois finalistas serão negros, Patrick Mahomes (Chiefs) e Jalen Hurts (Eagles), simbólico da mudança que tem acontecido na NFL, uma liga que, durante 12 anos (entre 1934 e 1946), proibiu a presença de jogadores negros.

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Jalen Hurts, dos Philadelphia Eagles, e Patrick Mahomes, dos Kansas City Chiefs

Historicamente, a posição de “quarterback”, aquele que comanda o ataque e tido como o líder da equipa, tem sido preenchida por atletas brancos, mesmo que a NFL seja há várias décadas uma liga com maioria de atletas negros – actualmente são 56,4%. “Pensavam que os homens negros eram inferiores e que os “quarterbacks” negros não podiam liderar homens brancos na NFL, e que, simplesmente, não eram suficientemente espertos”, diz o jornalista da ESPN Jason Reid, autor do livro “Rise of the Black Quarterback”, citado pela NPR.

Nas 56 primeiras edições do Super Bowl, só na 22.ª é que houve um “quarterback” negro titular, Doug Williams, que seria o MVP desse jogo no triunfo dos Washington Redskins sobre os Denver Broncos.

Trinta e cinco anos depois, temos Mahomes e Hurts frente-a-frente no jogo do título, confirmando que as coisas evoluíram na NFL – nos primeiros 30 anos da era Super Bowl, o número de “quarterbacks” negros a começarem pelo menos um jogo, durante uma época inteira, variava entre o zero e o quatro; no “opening day” de 2022, houve 11 “quarterbacks” negros entre as 32 equipas.

“É especial”, reconhece Patrick Mahomes, que estará pela terceira vez no Super Bowl com os Chiefs – venceu em 2019 e foi eleito o MVP, perdeu em 2020.

“Aqueles que vieram antes de nós abriram caminho para que isto acontecesse e agora somos nós que abrimos o caminho para aqueles que vêm a seguir”, acrescenta Mahomes. A Jalen Hurts, que estará no jogo do título pela primeira vez, também não é indiferente a dimensão simbólica do confronto deste domingo: “É história e é algo digno de ser assinalado. Tem sido um caminho longo. Só houve sete ‘quarterbacks’ afro-americanos a jogar na Super Bowl, e é muito fixe ser o primeiro em alguma coisa.”

Loucura transversal

Como todas as edições anteriores, o Super Bowl LVII é um evento gigantesco a vários níveis e a loucura é transversal a todo o país – e também tem impacto internacional. O jogo terá transmissão em directo para o mundo inteiro, de Andorra ao Zimbabwe, mas é nos EUA que os números impressionam: em 2022, a Super Bowl teve uma audiência de 208 milhões de norte-americanos, quase dois terços da população total do país (321 milhões).

E com esta audiência, não é de estranhar o preço que a estação televisiva que transmite o evento (este ano é a Fox) cobra a quem quer anunciar nos intervalos. Segundo a Forber, trinta segundos custam sete milhões de dólares, 233 mil dólares por segundo – se os minutos de publicidade durante a transmissão forem os mesmos do ano passado (44), a Fox irá arrecadar 616 milhões só em anúncios. Todos os espaços publicitários, diz a Fox, estão vendidos desde o final de Janeiro.

Em termos de consumo, os números são igualmente impressionantes. Ainda segundo a Forbes, os norte-americanos irão gastar cerca de 16,5 mil milhões de dólares no dia da Super Bowl, entre comida, bebida, merchandising, televisões novas e até mobiliário novo só para ver o jogo. Também se prevê que esta Super Bowl LVII atinja números recorde em termos de apostas (que são legais em 33 dos 50 estados) em eventos desportivos nos EUA, um volume de 1,1 mil milhões de dólares.

E, como sempre, o entretenimento ao intervalo será garantido por uma “estrela” de dimensão internacional. Já passaram pelo palco do Super Bowl Bruce Springsteen, Prince, Michael Jackson, Madonna, Beyoncé, Bruno Mars, Lady Gaga ou Kendrick Lamar, e, em 2023, será Rihanna, naquele que será o seu primeiro concerto dos últimos cinco anos, num espectáculo produzido por Jay-Z.

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