Salários não aceleram e agravam perda do poder de compra

Remunerações dos portugueses registaram variação homóloga de 4,2% no último trimestre do ano passado. Mas com a inflação a níveis muito elevados, a perda de poder de compra subiu para mais de 5%

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Salários dos portugueses compram menos bens do que anteriormente Paulo Pimenta

Com a inflação ainda aos níveis mais altos dos últimos 30 anos, os salários mantiveram no último trimestre do ano passado praticamente o mesmo nível de crescimento do trimestre anterior. O resultado é uma continuação do agravamento da perda de poder de compra dos portugueses.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística com base na informação relativa a 4,5 milhões de postos de trabalho de beneficiários da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, o valor médio da remuneração bruta mensal em Portugal foi, no quarto trimestre de 2022, de 1575 euros.

Este valor representa uma subida de 4,2% face ao mesmo período do ano anterior, o que significa que os salários registaram no quarto trimestre um ritmo de crescimento muito semelhante ao do terceiro, quando a variação homóloga se cifrou em 4%.

O problema é que isto acontece num cenário de inflação muito elevada e que, em média, ainda cresceu no quarto trimestre do ano (9,9%) face ao período imediatamente anterior (9,1%).

Isto significa que, em termos reais, as remunerações dos portugueses acentuaram a sua trajectória descendente. De acordo com o INE, o valor médio da remuneração bruta real caiu 5,2% no quarto trimestre face ao mesmo período do ano anterior. No terceiro trimestre, a descida registada tinha sido de 4,7%.

Isto significa que, em média, os portugueses estão a perder poder de compra, isto é, estão a conseguir comprar cada vez menos bens e serviços com o valor dos salários que recebem.

Esta perda de poder de compra dos portugueses é uma realidade na generalidade dos sectores de actividade e para todos os níveis de qualificação, embora em graus diferentes. Em sectores como o do alojamento e restauração, a variação homóloga da remuneração média bruta em termos reais cifrou-se em 1,7%, enquanto na administração pública a queda chegou aos 8% no final do ano passado.

É neste cenário de quebra acentuada da remuneração em termos reais que se espera agora pela forma como irão, na economia portuguesa, evoluir os salários no arranque de 2023. Foi a partir de Janeiro que, por exemplo no Estado, entraram em vigor aumentos salariais destinados a compensar, embora só parcialmente, a inflação registada. Em muitas empresas, poderá ser isso que também acontece.

O acordo de rendimentos plurianual assinado entre o Governo e os parceiros sociais prevê que, em média, o aumento dos salários em termos nominais, possa ser de 5,1%.

A concretização deste tipo de aumentos poderia contribuir, caso se concretize a expectativa de recuo da inflação ao longo deste ano, para limitar as reduções reais dos salários sentidas pelos portuguesos. Uma recuperação já no decorrer deste ano do poder de compra entretanto perdido é, no entanto, um cenário bastante improvável.

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