Petrolíferas arrecadam lucros recorde em 2022

Em conjunto, as maiores petrolíferas ocidentais arrecadaram lucros próximos de 150 mil milhões de euros em 2022, ano em que a guerra na Ucrânia fez disparar os preços do petróleo.

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O preço médio do petróleo subiu quase 40% em 2022 Reuters/STEPHANE MAHE

No ano em que os preços do petróleo dispararam, impulsionados sobretudo pelas disrupções causadas pela guerra na Ucrânia, as grandes petrolíferas estão a registar os maiores resultados de sempre. Foi esse o caso das norte-americanas Chevron e ExxonMobil, que reportaram lucros recorde já no mês passado, e, mais recentemente, também da britânica BP, que acaba de apresentar os lucros mais elevados da sua história, um marco que a fez recuar na intenção de cortar na produção de petróleo e gás natural.

Os resultados apresentados nesta terça-feira pela BP vêm confirmar aquela que tem sido a tendência no sector. Em comunicado emitido nesta terça-feira, a petrolífera britânica revela que obteve lucros de 27,7 mil milhões de dólares (cerca de 25,7 mil milhões de euros, à cotação actual) em 2022, ultrapassando, assim, o anterior recorde de 26,3 mil milhões de dólares que tinha sido alcançado em 2008. Este valor representa, também, mais do dobro daquele que tinha sido reportado em 2021.

Perante estes resultados, a BP decidiu reduzir significativamente o esforço de corte de produção para diminuir as emissões de carbono. Agora, a empresa prevê chegar a 2030 com uma produção de 2 milhões de barris de petróleo por dia, o que, a ser atingido, representará uma redução de 25% em relação aos números que registava em 2019. Antes da apresentação destes resultados, a meta era reduzir a produção em 40% até 2030. Até esse ano, adianta ainda a BP, a empresa pretende investir um total de 8 mil milhões de dólares em projectos de petróleo e gás natural, um investimento que, diz, irá permitir “responder à procura por um fornecimento seguro de petróleo e gás”.

A BP junta-se, assim, a uma lista de várias outras grandes petrolíferas que têm reportado lucros recorde nas últimas semanas. Foi o caso da Chevron, que alcançou um resultado líquido recorde de 36,5 mil milhões de dólares em 2022 (perto de 34 mil milhões de euros), mais do dobro do que no ano anterior, ou da ExxonMobil, que reportou lucros de 55,7 mil milhões no ano passado (mais de 51 mil milhões de euros), um valor que também representa um máximo histórico para a petrolífera norte-americana. Já a britânica Shell duplicou os lucros no ano passado e alcançou um resultado de 39,8 mil milhões de dólares (cerca de 37 mil milhões de euros) em 2022.

Em conjunto, BP, Shell, ExxonMobil e Chevron — que, a par da francesa Total (que ainda não reportou os resultados relativos a 2022), formam o grupo das cinco maiores petrolíferas ocidentais e estão entre as maiores do mundo, só abaixo da Saudi Aramco, da China Petroleum & Chemical e da PetroChina — arrecadaram lucros de 159,7 mil milhões de dólares (mais de 148 mil milhões de euros) em 2022.

Em Portugal, a Galp só irá apresentar os resultados relativos a 2022 no próximo dia 13, mas a prestação de contas até Setembro do ano passado já permite antever que a petrolífera portuguesa seguirá a mesma tendência. No conjunto dos nove primeiros meses do ano passado, a Galp reportou lucros de 608 milhões de euros, um aumento de 86% face a igual período do ano anterior, justificado pela empresa com “um forte desempenho operacional em todos os segmentos de negócio, com actividades [de extracção] e industrial a capturar o forte ambiente macro”.

Estes resultados são alcançados num ano em que os preços do petróleo cresceram a ritmo acelerado, fazendo disparar o custo dos combustíveis. No conjunto de 2022, o preço médio do barril de Brent — matéria-prima negociada em Londres e que serve de referência para o mercado europeu — fixou-se em 99 dólares, valor que representa um aumento de quase 40% face ao preço médio de 70 euros que tinha sido registado no ano anterior. E, por várias vezes, chegou a ultrapassar a barreira dos 120 dólares por barril, um nível que já não se verificava desde 2012.

Para este movimento, contribuiu, em grande parte, a invasão da Ucrânia pela Rússia, que veio adicionar pressão a um mercado já antes afectado pelas disrupções nas cadeias de abastecimento provocadas pela pandemia, bem como pela subida acelerada da inflação que já então se fazia sentir. Em concreto, o mercado foi pressionado, sobretudo, pelas sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos ao petróleo proveniente da Rússia — país que, antes da guerra, fornecia mais de 30% do petróleo importado pela União Europeia —, que incluíram a definição de um preço máximo para as compras de petróleo russo.

Em sentido contrário, este ano, os preços do petróleo têm vindo a cair perante as expectativas de uma recessão económica e consequente abrandamento da procura global. Nesta terça-feira, o barril de Brent negoceia na casa dos 82 dólares, uma subida de 1,5% em relação à última sessão, mas uma queda superior a 35% face ao pico de 127 dólares atingido em Março do ano passado.

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