Portugal deixa escapar vitória no Mundial de andebol já depois do fim do jogo

Já depois da buzina final e da festa nacional, a dupla de árbitras foi rever imagens dos últimos segundos e penalizou Portugal com um livre de sete metros. Golo do Brasil e desilusão portuguesa.

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Portugal no Mundial de andebol EPA/Johan Nilsson

Quando acabou o Portugal-Brasil, no Mundial de andebol, os portugueses venciam por 28-27. Minutos depois, com as árbitras do jogo a irem ao videoárbitro, a festa portuguesa foi interrompida por um livre de sete metros e cartão vermelho a Alexis (ler aqui o motivo). Resultado: livre convertido e um enorme balde de água fria na selecção nacional, que se ficou por um empate a 28 golos.

Este empate dificulta bastante o cenário para o que ainda aí vem. Expliquemos. O Brasil é o adversário mais próximo do valor de Portugal, já que a Suécia é claramente mais forte e Cabo Verde claramente mais frágil. Vencendo o Brasil, Portugal garantiria que, se tudo correr como “é suposto” – e o ser suposto é, no desporto, um conceito bastante volátil –, estaria nos quartos-de-final do Mundial.

Porquê? Porque caso a Suécia vença os seus jogos com Portugal, Hungria e Islândia – e é provável que o faça – e Portugal vencesse Cabo Verde na sexta-feira – e também isso é um cenário bem provável –, húngaros, islandeses e brasileiros nunca ultrapassariam Portugal no grupo, mesmo que a selecção caia perante a Suécia.

Em suma, o jogo desta quarta-feira com o Brasil, que Portugal não conseguiu ultrapassar com uma vitória, era um ponto importante para retirar à selecção a necessidade de “roubar” pontos à Suécia.

Assim, talvez Portugal vá ter de ir buscar pontos onde não esperava. E o Brasil coloca-se, inesperadamente, numa luta que teria, em tese, “Europa” escrito na testa.

Jogo lento

Neste jogo, ao contrário do que se passou frente à Hungria, Portugal não enfrentou uma defesa remetida aos seis metros, num 6-0 claro.

O Brasil não teve pudor em destacar um jogador para o portador da bola e os centrais e os laterais portugueses raramente tiveram liberdade para romperem em um contra um, algo que aconteceu com facilidade frente aos pesados e pouco móveis húngaros.

Nessa medida, o jogo foi algo aborrecido – Portugal com limitações no portador da bola, o Brasil com ataques lentos e prolongados e reféns da activação pontual dos pontas, algo que aconteceu nos primeiros minutos (três remates do ponta direita em cinco minutos) mas que depois foi corrigido pela defesa portuguesa.

E a correcção não precisou de ser vista em jogo, já que pudemos ouvi-la num desconto de tempo em que Paulo Jorge Pereira pediu aos jogadores que fossem mais pacientes na defesa, arriscando menos as intercepções de passe – algo que estava a criar espaços para os pontas brasileiros.

O jogo estava a pedir mais Miguel Martins, um central mais agressivo do que Rui Silva no um contra um e mais capaz de fugir ao jogador brasileiro que saía na pressão ao portador da bola. O central acabou por jogar nos minutos finais da primeira parte e conseguiu criar alguns momentos de confusão na defesa brasileira.

Foi também interessante a forma como Portugal explorou pouco a presença de Luís Frade, que, apesar de duas boas assistências para Areia em transições, esteve pouco activo em ataque organizado – Alexis e Iturriza foram mais explorados.

O jogo foi correndo quase sempre na diferença de um golo ou empate e o intervalo chegou com 12-11, um resultado cujos poucos golos espelhavam o que tinha sido o jogo: lento e pouco dado a muitas situações de remate.

Sete contra seis

Portugal regressou do intervalo com a aposta no sete contra seis, mas a principal diferença nem foi táctica, mas sim técnica.

Os jogadores cometeram vários pequenos erros técnicos a nível do passe e da recepção que permitiram ao Brasil situações de transição, além de a eficácia no remate ter baixado um pouco relativamente ao que tinha sido até ao intervalo.

Foi o sete contra seis que permitiu a Portugal regressar ao comando do jogo, com a presença de André Gomes como lateral direito, mas também foi essa opção que deu ao Brasil alguns golos de baliza aberta. Num deles, um mau passe artístico de Fábio Magalhães ainda em sete contra seis permitiu ao Brasil recuperar a bola e voltar ao comando do marcador – situação difícil de compreender em superioridade numérica.

A sete minutos do final, com 24-24, Portugal ganhou um livre de sete metros com exclusão de um jogador brasileiro. E este foi um ponto de mudança no jogo. Os portugueses passaram à vantagem no marcador e conseguiram dilatá-la, novamente com António Areia (melhor marcador de Portugal, com sete golos) em jogo.

Com 27-25, Portugal podia fazer correr o relógio, mas o Brasil conseguiu dois golos, mesmo sob ameaça de jogo passivo, e havia 27-27 no último minuto, com posse de bola para Portugal.

Paulo Jorge Pereira lançou Kiko Costa, até então pouco participativo no jogo, e o jogador do Sporting apostou num lance individual e fez o 28-27 final.

Ou talvez não. Já depois da buzina final e da festa portuguesa em Gotemburgo, a dupla de árbitras foi rever imagens dos últimos segundos e penalizou Portugal com um livre de sete metros e com cartão vermelho a Alexis. Inicialmente não ficou claro o motivo da decisão, mas o certo é que Dupoix converteu o remate em golo e o jogo acabou 28-28, com festa rija dos brasileiros.

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