Ministra da Defesa da Alemanha pede demissão

Christine Lambrecht era acusada pela oposição de não ser capaz de reformar e de reforçar as Forças Armadas, apesar do aumento histórico do investimento alemão na Defesa.

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Christine Lambrecht é membro do SPD REUTERS/Fabrizio Bensch

A ministra da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, pediu esta segunda-feira a demissão ao chanceler do país, Olaf Scholz. Lambrecht, tal como Scholz, é membro do SPD, o partido de centro-esquerda que lidera o Governo de coligação alemão, juntamente com os Verdes e o FDP (liberais).

“Hoje peço ao chanceler que me dispense do cargo de ministra federal da Defesa”, informou, num comunicado.

“O foco dos media em mim, nos últimos meses, praticamente não permitiu uma avaliação e uma discussão factuais sobre os soldados, sobre o Exército e sobre as políticas de segurança do interesse dos cidadãos da Alemanha”, lamentou Lambrecht, citada pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung.

A ministra era alvo de críticas da oposição há vários meses. A CDU, particularmente, denunciava a sua incapacidade e falta de conhecimento para reformar e reforçar o Exército alemão, no âmbito da decisão histórica do Governo de aumentar o investimento nas Forças Armadas, estabelecendo um fundo de 100 mil milhões de euros, como resposta à invasão russa da Ucrânia.

Estas críticas subiram de tom quando os carros de combate de infantaria Puma – que faziam parte das contribuições alemãs para a nova força de resposta rápida da NATO – apresentaram problemas em exercícios militares, realizados no final do ano, tendo ficado inoperacionais.

Para além disso, Lambrecht, de 57 anos, ficou debaixo do fogo dos tablóides alemães, e não só, por causa de um vídeo que gravou no Ano Novo, no qual agradecia aos soldados alemães e falava nos “desafios” da guerra, ao mesmo tempo que se congratulava por ter conhecido pessoas “muito interessantes” em 2022.

A mistura de temas sérios com questões pessoais e o facto de o vídeo ter fogo-de-artifício como barulho de fundo motivaram acusações de falta de sensibilidade e aumentaram a pressão mediática sobre a ministra.

Lambrecht tinha já provocado um escândalo a menos de seis meses de Governo, quando foi, com o seu filho de 21 anos, até à ilha de Sylt depois de uma visita a um batalhão no Norte do país – usando um helicóptero do Exército para a viagem privada.

Lambrecht foi vice de Scholz quando o actual chanceler ocupava a pasta das Finanças no último governo liderado por Angela Merkel, antes de ser nomeada ministra da Justiça em 2019.

Num comentário no Frankfurter Allgemeine Zeitung apontam-se culpa ao chanceler: “O facto de as Forças Armadas serem, nesta fase decisiva, apelidada de Zeitenwende [mudança de época] pelo chanceler, tão mal dirigida e representada, [é uma responsabilidade que] recai sobre o chanceler”.

A pasta da Defesa é uma pasta difícil, com problemas antigos de falta de investimento e material inoperacional. A revista Der Spiegel resumiu o trabalho dos últimos ministros e ministras, incluindo a actual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que ocupou a pasta de 2013 a 2019, e a melhor nota foi um “OK”, para Annegret Kramp-Karrenbauer.

Scholz deve indicar na terça-feira o nome de quem sucederá a Lambrecht, diz o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Há alguma urgência, até porque na quinta-feira é preciso receber o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que visita Berlim, e na sexta-feira há um encontro entre ministros da Defesa na base militar norte-americana de Ramstein para discutir mais envios de armas para a Ucrânia.

Segundo a Reuters, entre os favoritos ao cargo estão Eva Högl (comissária parlamentar para as Forças Armadas), Lars Klingbeil (líder do SPD), Hubertus Heil (ministro do Trabalho) e Siemtje Möller (secretária de Estado da Defesa).

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