Não é só o príncipe Harry: porque é que as pessoas procuram médiuns?

O príncipe Harry recorrer a um médium para entrar em contacto com a mãe não é incomum. Incomum é a quantidade de pessoas que também recorre a pessoas com alegadas capacidades psíquicas. Mas porquê?

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Harry recorreu a uma pessoa com supostas capacidades psíquicas para entrar em contacto com a falecida mãe, Diana Valentina Antuganova/Getty Images

Excertos de Na Sombra, o livro de memórias publicado recentemente pelo príncipe Harry, revelam que ele recorreu a uma pessoa com supostas capacidades psíquicas para entrar em contacto com a falecida mãe, Diana, princesa de Gales. Diana morreu tragicamente num acidente de carro em Paris, em 1997, quando Harry tinha 12 anos.

A mulher com poderes secretos foi recomendada por um amigo próximo. Enquanto Harry “reconheceu que havia uma grande probabilidade de ser uma aldrabice”, quando a conheceu terá “sentido uma energia”. Depois, a mulher transmitiu-lhe mensagens que teria recebido de Diana.

Contou-lhe que Diana estava com ele e consciente que ele estava confuso e à procura de clareza. Acrescentou que sabia que ele tinha muitas perguntas e que as respostas iriam surgir com o tempo. Também lhe disse a mãe viu – e se divertiu – com Archie, filho de Harry e Meghan, a partir uma decoração de Natal na forma da avó, a rainha.

Pessoas com supostos poderes paranormais, como os descritos pelo príncipe Harry, são normalmente chamadas psíquicas, médiuns ou videntes. Embora os termos sejam frequentemente usados como sinónimos, têm significados diferentes.

Os psíquicos são conhecidos por serem capazes de obter informações sobre pessoas ou acontecimentos ao conectarem-se com as “almas”. Médiuns acreditam que conseguem transmitir e receber informação dos mortos. Os videntes dizem que conseguem ver e sentir com o poder da mente. Em conclusão, todos os médiuns são psíquicos mas nem todos os psíquicos são médiuns.

Não obstante, as afirmações feitas por psíquicos têm uma reputação terrível e são geralmente condenadas pela sociedade. Isso deve-se a todas as falsificações e à falta de suporte científico.

Apesar disso, muita gente continua a recorrer a estas pessoas e grande parte do público – mais de um quarto dos americanos, por exemplo, de acordo com um estudo da Gallup – acredita que os humanos têm capacidades psíquicas.

Aliás, uma investigação estima que cerca de 10% da população adulta do Reino Unido visita, regularmente, um psíquico. Uma sondagem feita, em 2011, pela YouGov concluiu que cerca de um quarto da população britânica já consultou um e bem mais do que metade acredita que tudo o que foi dito é verdade.

Impostores famosos?

Casos históricos de notáveis fraudes incluem Mina Crandon (1888 – 1941), uma médium que alegou canalizar a energia do falecido irmão, Walter Stinson. As investigações revelaram que ela não tinha poderes paranormais e estava envolvida em fraudes. Tentou enganar também o famoso mágico Harry Houdini, mas não conseguiu, já que Houdini não se deixou levar.

Henry Slade foi outro notável médium fraudulento. Ele foi repetidamente apanhado a falsificar mensagens espirituais em sessões. Colocava uma ardósia e um pedaço de giz debaixo da mesa e afirmava que os espíritos a usariam para escrever mensagens. Produziu os fenómenos através de vários truques de magia e ao escrever com os dedos dos pés.

Mas nem todos os médiuns e psíquicos tentam deliberadamente enganar as pessoas. Exemplo disso é Derek Ogilvie, que parecia acreditar verdadeiramente, ser capaz de comunicar telepaticamente com bebés.

No documentário exibido em 2007 pelo Channel 5, Extraordinary People: The Million Dollar Mind Reader, Ogilvie falhou ao tentar demonstrar as suas capacidades, o que se mostrou muito satisfatório para a comunidade científica. Mas o programa concluiu que ele estava enganado e não a mentir. Ogilvie afirmou que apenas consegue entender o que o bebe está a projectar telepaticamente e não fornecer informações sobre os pais, como uma das experiências pedia.

A demonstração falhada de habilidades paranormais em condições rigorosas e controladas está bem documentada. Por exemplo, James Randi, um investigador que desmistifica alegações paranormais e pseudocientíficas, ofereceu um prémio de um milhão de dólares a qualquer um que conseguisse mostrar uma habilidade sobrenatural ou paranormal sob critérios de testes científicos predeterminados. Embora o desafio tenha ocorrido entre 1964 e 2015, ninguém conseguiu reivindicar o prémio.

Porque é que as pessoas visitam médiuns?

Dados estes casos e a falta de apoio científico, porque é que as pessoas, tal como o príncipe Harry, recorrem a pessoas com supostos poderes paranormais?

O luto e a forma que se encontra para encarar o luto é uma crise de vida que pode afectar negativamente o bem-estar físico e psicológico de cada um. Nesse contexto, a tentativa de comunicação após a morte fornece um vínculo contínuo entre vivos e mortos. Independentemente de ser imaginado ou real, isto pode proporcionar conforto e ser benéfico para o luto de cada um.

Estudos sugerem que pessoas que acreditam mesmo na vida depois da morte vão ter mais esperança e irão dar mais ênfase às informações que recebem de psíquicos.

Especificamente, o contacto psíquico permite que o enlutado trabalhe e resolva problemas ou conflitos com o falecido. Isto também vai fazer com que os relacionamentos transcendam a morte e sustentem os vivos.

A ideia de comunicar com um ente querido que já faleceu também oferece esperança. É mais fácil de aceitar do que a percepção definitiva do fim da vida. Também permite que a pessoa reenquadre as experiências e siga em frente.

No entanto, existem relatos de pessoas que se tornaram viciadas em leituras psíquicas.

Tentativas de contacto com entes queridos que partiram preenchem a necessidade de tentar compreender o desconhecido e dar sentido à nossa própria existência. Evidentemente, isto pode ajudar a lidar com a ansiedade que advém da consciência da própria mortalidade. Visitar um médium também permite que os indivíduos explorem e experimentem aspectos mais amplos da existência humana.

Independentemente das razões, médiuns, psíquicos e videntes existem há milhares de anos e continuam a ser populares, apesar da falta de informação científica. Dada a necessidade psicológica que parecem satisfazer, é possível que as pessoas ainda os visitem por mais mil anos.


Exclusivo P3/The Conversation
Ken Drinkwater é professor sénior e investigador em Cognitivo e Parapsicologia na Universidade Metropolitana de Manchester
Neil Dagnall é palestrante de Psicologia Cognitiva Aplicada na Universidade Metropolitana de Manchester

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