Os pinguins-de-Magalhães estão a desaparecer de Punta Tombo e a culpa é do clima

Uma península cada vez mais quente e húmida fez com que o número local de casais de pinguins-de-Magalhães passasse de 400 mil no início dos anos 1980 para 150 mil em 2019.

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Pinguins-de-Magalhães em Punta Tombo, Argentina The Center for Ecosystem Sentinels
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Pinguins-de-Magalhães em Punta Tombo, Argentina The Center for Ecosystem Sentinels
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Uma imagem de Verão ao longo da costa de Punta Tombo em 2012 Dee Boersma/UW Center for Ecosystem Sentinels
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Uma imagem de Verão ao longo da costa de Punta Tombo, na Argentina Dee Boersma/UW Center for Ecosystem Sentinels
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Um par de pinguins-de-Magalhães com a sua cria em Punta Tombo, em 2016 Dee Boersma/UW Center for Ecosystem Sentinels
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A chuva embebe a plumagem de uma cria (à esquerda), que ainda é demasiado nova para ter as penas à prova de água dos seus pais (à direita) Dee Boersma/UW Center for Ecosystem Sentinels

Para os pinguins, que recorrem aos oceanos para migrarem e se alimentarem e à terra para se reproduzirem, eventuais mudanças no seu ecossistema causadas pelas alterações climáticas são sentidas em dose dupla. Eventos climáticos terrestres e marinhos têm influência nestes animais em todos os estágios da sua vida.

Neste sentido, investigadores da Universidade de Washington descobriram que efeitos tiveram os eventos climáticos de curto e longo prazo na população de pinguins-de-Magalhães durante mais de quatro décadas, naquele que é o seu maior local de reprodução – a península de Punta Tombo, no Sul da Argentina.

O estudo, que vai ser publicado esta semana na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, revela que tanto os efeitos das alterações climáticas a curto prazo como aqueles a longo prazo são relevantes na sobrevivência futura desta população de pinguins. Em conjunto estão a contribuir para uma redução populacional nesta região da América do Sul.

Normalmente, os pinguins-de-Magalhães chegam a Punta Tombo entre Setembro e Outubro e reproduzem-se até Fevereiro, migrando, no máximo, em Abril. À medida que os anos passam, uma Punta Tombo cada vez mais quente e húmida fez com que o número de casais reprodutores passasse de aproximadamente 400 mil no início dos anos 1980 para cerca de 150 mil em 2019.

“Esta colónia vai fazer 100 anos em 2024, mas terminámos outra investigação no terreno em finais de Outubro e os seus números continuam a descer”, afirma Dee Boersma, co-autora do estudo, citada em comunicado. “Os pinguins estão antes a deslocar-se para Norte para estarem mais perto de alimento.”

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Cadáveres de pinguins-de-Magalhães adultos (rodeados) em Punta Tombo, logo após uma onda de calor que matou pelo menos 354 indivíduos da espécie Anna Sulc/University of Washington

A equipa do Center for Ecosystem Sentinels, da Universidade de Washington, analisou dados recolhidos no local entre 1982 e 2019 que incluíam a sobrevivência e o sucesso reprodutivo de quase 54 mil pinguins e as condições climatéricas em cada época reprodutiva. Além disso, foi considerado o estado do oceano na costa de Punta Tombo e ao longo da costa da América do Sul, onde os pinguins se alimentam durante e fora da época de reprodução, respectivamente.

Excepções não anulam dimensão do problema

A informação recolhida demonstrou que diferentes fenómenos climáticos tinham impactos distintos na população de Punta Tombo. Um exemplo relevante foram as ondas de calor – um fenómeno de curto prazo –, que tiveram efeitos nefastos na sobrevivência dos pinguins-de-Magalhães. A onda de calor de 19 de Janeiro de 2019 foi particularmente marcante: as temperaturas invulgarmente altas que atingiram a região durante um único dia foram suficientes para matar mais de 350 pinguins.

Outro evento de curto prazo que contribuiu para que o número de pinguins reduzisse foi o aumento das chuvas em Punta Tombo, visto que muitas crias morreram quando expostas a tempestades.

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Vista de satélite de 2002 do Rio de la Plata, que se forma na confluência dos rios Paraná e Uruguai e expulsa uma pluma de resíduos que tem impacto nas condições de alimentação dos pinguins-de-Magalhães no Inverno Jacques Descloitres/MODISRapid Response Team/NASA/GSFC

Por outro lado, há mudanças climáticas mais lentas que podem trazer vantagens para os pinguins-de-Magalhães. É o caso do progressivo enfraquecimento da pluma de resíduos expelida pelo Rio de la Plata, a segunda maior bacia hidrográfica da América do Sul, fenómeno que beneficiou os pinguins que se alimentavam nas águas do Norte da Argentina, do Uruguai e do Brasil.

Investigações anteriores de Ginger Rebstock, co-autora do estudo e cientista da Universidade de Washington, revelaram que uma pluma mais fraca facilita a apanha de comida por parte dos pinguins durante o Inverno, o que beneficia particularmente as fêmeas, que regressam ao local de reprodução em melhores condições físicas.

Os cientistas ressalvam que estes exemplos positivos não anulam os efeitos globais das alterações climáticas numa população de pinguins-de-Magalhães que está em declínio, pelo que conhecer os efeitos das alterações climáticas a curto e a longo prazo é essencial para a preservação dos ecossistemas e protecção da biodiversidade. Neste caso, uma das sugestões apresentadas no artigo consiste em acções de mitigação de ondas de calor.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva

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