PCP admite integrar um governo do PS e espera um dia formar o seu próprio executivo

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, admite em entrevista ao Diário de Notícias “integrar um governo” e não esconde “a legítima pretensão de poder formar” um.

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Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, afirma que "as opções políticas" da maioria absoluta do PS não espelham preocupação com os problemas estruturais do país. Em entrevista ao Diário de Notícias na edição desta segunda-feira, o líder comunista admite "integrar um governo", mas também "formar um governo" que trave a "alternância" e que tenha "objectivos muito claros". Quando o assunto é Ucrânia, Paulo Raimundo não fala em "intervenção militar". "É uma guerra, não há dúvida nenhuma", considera.

Sobre a possibilidade de integrar um executivo, o líder do PCP é peremptório, abrindo uma porta até então fechada. "Porque é que havíamos de excluir? O nosso objectivo é conquistar o poder, é para isso que cá andamos", respondeu. "E até lhe digo mais, não só não excluímos integrar um governo, como temos a legítima pretensão de poder formar um governo", diz.

O líder do PCP prefere não falar em eleições antecipadas até porque o executivo de maioria absoluta "só não avança com medidas que resolvam os problemas das pessoas se não quiser, porque tem todas as condições para isso". "Não há nenhum desejo da nossa parte em acelerar as coisas. Para acelerar estão cá outros", responde.

O líder comunista recorda os avanços feitos durante o período da "geringonça" e afirma que o "que torna instável a situação hoje é a profunda contradição entre a política seguida e os problemas que as pessoas enfrentam". "Ao contrário da solução de 2015 a 2019, em que o PS, no nosso entender, foi obrigado a ir mais longe do que aquilo que esperava ter de ir", diz Paulo Raimundo.

Para o secretário-geral do PCP, o que está em causa "é um problema de alternativa, não de alternância". Por isso, o PCP propõe "uma alternativa com uma política patriótica e de esquerda" e acredita que essa será a imposição no futuro, numa solução que inclua o PS. "À partida não pode estar de fora desta solução", acrescenta.

Sobre o anterior acordo de governação à esquerda (a "geringonça"), Paulo Raimundo afirma que se foi mais longe do que "eventualmente pudesse estar escrito no papel" de acordo — que o PCP não achava essencial porque o papel só falava em questões de governabilidade e não de medidas políticas.

Paulo Raimundo elogia ainda o "princípio de franqueza e frontalidade" de Pedro Nuno Santos, sem deixar de sublinhar a existência de uma "identificação clara" que separa o ex-ministro das Infra-Estruturas do PCP.

Acerca do próprio partido, o sucessor de Jerónimo de Sousa reconhece que "algumas pessoas deixaram de olhar para o PCP como o partido que lhes responde nos seus objectivos". Mas garante que tem havido um caminho de aproximação. "Há uma coisa que temos de dizer que sentimos, que é o facto de termos 2000 novos militantes desde o ano passado. É um dado significativo, mas não lhe consigo dizer se alguns desses foi antes ou depois de eu chegar a secretário-geral", diz.

Quanto à acção sindical, o líder comunista defende que é preciso uma CGTP "mais forte, mais activa, mais interventiva.

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