O “ciganito” do tambor

Tive raiva de mim próprio, por nunca ter posto uma moeda naquele tapete colorido. Olhar não é ver, disse alguém a quem contei isto.

No curto intervalo entre o Natal e o Ano Novo, enquanto se dissipa o tempo solidário, recordo uma lição de humildade vivida em Pristina, capital do Kosovo, onde trabalhei dois anos. Na Bulevardi Nënë Tereza – a rua pedonal do centro da cidade – havia sempre meninos a tocar darabuka – um pequeno instrumento de percussão de origem árabe, resquício de quase 500 anos de domínio otomano – a troco de moedas de esmola. Um, que estava lá todos os dias, fizesse chuva, sol ou neve, destacava-se. Era mais alto e um pouco mais velho. Não cruzava olhares sorridentes com quem passava à procura de compaixão. Ficava ali, horas a fio, cabisbaixo, sentado sobre os calcanhares, em cima do tapete colorido onde se podia deixar uma moeda, a tocar desajeitadamente o pequeno tambor entalado nos joelhos. Passei por ele dezenas de vezes sem qualquer interesse. Mais um pedinte arrumado no lugar das coisas sem importância.

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