Sérvia pede à NATO que deixe entrar as suas forças de segurança no Kosovo

Pedido inédito desde o fim da guerra surge num momento em que as tensões entre Belgrado e Pristina atingem um dos pontos mais altos dos últimos 23 anos.

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Bloqueio de estrada no Norte do Kosovo, onde a maioria é etnicamente sérvia Reuters/FLORION GOGA

A Sérvia pediu formalmente à força de manutenção da paz da NATO no Kosovo (KFOR) que autorize o envio de tropa sérvia para aquele território, um gesto inédito desde que a guerra terminou em 1999.

O pedido foi anunciado pelo ministro sérvio da Defesa, Milos Vucevic, esta sexta-feira, depois de o Presidente do país, Aleksandar Vucic, ter tornado pública essa intenção e de o Kosovo ter formalizado um pedido para aderir à União Europeia, na semana passada.

O documento entregue à tropa da Aliança Atlântica na fronteira de Merdare invoca a resolução 1244 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, adoptada em 1999, que prevê a possibilidade de regresso de algum pessoal de segurança da Sérvia ao Kosovo para, nomeadamente, vigiar fronteiras e sítios patrimoniais sérvios, fazer desminagem e fazer a ligação com a força internacional de segurança.

De acordo com Milos Vucevic, a intenção do Governo sérvio é que sejam deslocados 1000 soldados do Exército e agentes da polícia para o autoproclamado país, que a Sérvia reclama como sendo parte do seu território.

As tensões entre Belgrado e Pristina têm recrudescido nos últimos dois anos devido a uma catadupa de episódios que vão desde a proibição de carros com matrículas sérvias de circularem no Kosovo à recusa de um partido pró-sérvio de participar nas eleições locais. Mais recentemente, a detenção de um antigo polícia kosovar de origem sérvia levou a bloqueios de estradas e a confrontos com a polícia.

“Penso que seria importante para a protecção da população sérvia e sobretudo para o controlo daquilo a que chamam postos fronteiriços”, disse Vucic à televisão pública sérvia para justificar o pedido de envio de tropa. “Contribuiria para a paz, para a redução de tensões, daria uma percepção completamente diferente para o futuro e para a possibilidade de se encontrarem soluções de compromisso”, argumentou o Presidente.

“Mas não querem nem sequer ouvir falar disso porque significaria espetar um dedo no olho àqueles que pensam que têm o direito de decidir sobre nós sem nós”, acrescentou, citado pelo site BalkanInsight.

Para o chefe de gabinete do Presidente kosovar, Blerim Vela, o pedido da Sérvia é “patético”. E ironizou: “Para um político que reclama ‘soberania’ sobre o Kosovo, pedir aos ‘ocupantes’ da NATO que lhe deixem enviar forças para o ‘seu’ território deve ser a jogada mais baixa e desesperada.”

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti, denunciou a detenção pela polícia sérvia da política Rada Trajkovic, que assessora o único ministro de origem sérvia do Governo do Kosovo, Nenad Rasic, que é crítico do executivo de Belgrado. Para Kurti, a detenção configura “uma grave violação dos direitos humanos”.

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