Quiet quitting e o fim do profissionalismo

Não é apenas o salário financeiro que oferece aos colaboradores garantias que a sua dedicação pode ter retorno. Há também um salário emocional.

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É um problema crónico e a subsistência do mesmo retrata a irrelevância que lhe é atribuída apesar dos diversos sinais que apelam a uma mudança. Talvez suscitado por uma nova visão profissional que surgiu durante o período pandémico, o quiet quitting deixou de ser um tema transparente, tornou-se mais visível e uma preocupação, não só para as empresas, mas também para o Governo.

Consiste numa espécie de "grito do Ipiranga" nas empresas com consequências a nível profissional. O quiet quitting é o desligar do elo mais importante que o colaborador tem com a empresa, é o que suporta as características que definem um colaborador como bom profissional, a ligação emocional. Neste off profissional, a dedicação do colaborador à empresa fica reduzida a uma espécie de serviços mínimos, que têm consequências nos seus resultados, quando alargado a diversos colaboradores, da própria empresa.

Existe um leque de vários motivos, tal como o problema, também crónicos, que resistem dentro de uma bolha de gestão que teima em se extinguir. Salários baixos, clima de toxicidade proveniente da má relação profissional com a estrutura hierárquica, falta de reconhecimento e bloqueio de progressão profissional fazem simbiose com a necessidade de valorização da vida pessoal e familiar, que obrigaram a empresas mais conscientes sobre o tema a procurar soluções para estancar, não só a perda dos seus melhores profissionais, como também garantir que essa melhoria se reflecte nos resultados.

O fim da ligação emocional com a empresa leva excelentes colaboradores a abdicar das suas qualidades profissionais e intelectuais em troca do perfil de colaborador que presta o mínimo de tarefas que lhe é exigido oferecendo uma postura básica e limitada que culmina com uma qualidade residual, ou nenhuma, nas tarefas e uma queda na produtividade da empresa, que fica sem acesso às melhores performances profissionais dos seus colaboradores.

Há de facto um caminho necessário que precisa de ser trabalhado pelas empresas. Não é apenas o salário financeiro que oferece aos colaboradores garantias que a sua dedicação pode ter o retorno através de boas relações com a hierarquia e reconhecimento pela dedicação, o que por vezes não justifica. Há também um salário emocional, esquecido, que precisa de ser melhorado de forma muito mais expressiva. É um salário que em termos reais está muito abaixo da inflação de dedicação que os colaboradores oferecem às empresas.

Uma mudança significativa requer que as empresas se reinventem na política de Recursos Humanos, que necessita de ser melhorada e capacitada o suficiente para fazer diferença suficiente que permita manter e aproveitar a qualidade dos melhores profissionais. Caso se mantenham, não só estão a retirar qualidade ao trabalho, como promovem a extinção do profissionalismo. É necessário muito mais do que preocupações temporais, é necessário concretizar com mais seriedade.

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