Salva-vidas nuclear

Quantas pessoas mais teriam morrido mundialmente no período de 1971 a 2009 se a energia nuclear tivesse sido substituída por combustíveis fósseis?

As Nações Unidas têm alertado que o mundo não está “nem perto” de atingir as suas metas para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, com o planeta a caminho de ver as temperaturas subirem para 2,5 graus Celsius acima das médias pré-industriais no final do século XXI. A United Nations Economic Commission for Europe (UNECE) tem concluído em relatórios recentes que “os objectivos climáticos mundiais não serão alcançados se as tecnologias nucleares forem excluídas”, porque a energia nuclear produz menos emissões de CO2 (5-6 g CO2/kWh gerado) que qualquer outra fonte de produção de electricidade, no seu ciclo completo de vida. Tanto a energia nuclear como as renováveis não emitem gases de efeito de estufa no seu processo de produção de electricidade, mas cada uma das formas de produzir electricidade tem uma pegada carbónica distinta ao longo do seu ciclo de vida completo. A energia nuclear é, entre as tecnologias limpas, a que faz menos uso de terreno e a que requer uma menor quantidade de minerais e materiais críticos.

Globalmente, a produção de energia nuclear evitou 63 Gt de CO2 de 1971 a 2018, de acordo com a IEA. Sem a energia nuclear, as emissões resultantes da geração de electricidade teriam sido 20% maiores, e as emissões totais relacionadas à energia 6% maiores, durante esse período. Infelizmente, a opinião pública sobre a energia nuclear tende a ser muito negativa, mas totalmente errada. A energia nuclear é uma das fontes de energia mais seguras e limpas, por unidade de energia, resultando em centenas de mortes a menos do que as causadas pelo carvão, petróleo ou gás, e é comparável às fontes renováveis, como solar ou eólica.

A pergunta correcta a fazer é “Quantas vidas a energia nuclear salvou?”. A OMS estima que a poluição do ar ambiente é responsável por 4,2 milhões de mortes por ano em todo o mundo. No pós-Fukushima, a Alemanha eliminou gradualmente a geração de energia nuclear, fechou dez das suas 17 instalações nucleares e planeou fechar os reactores restantes em 2022. Essa decisão custou vidas. A maior parte do déficit de energia com desmantelamento de energia nuclear foi preenchido pelo aumento da produção de carvão. Estima-se que o furor anti-nuclear da Alemanha custou mais de 1100 mortes adicionais por ano como resultado da poluição do ar. O plano da Alemanha para tornar os seus sistemas de energia mais seguros teve exactamente o resultado oposto.

Investigadores americanos calcularam o custo social do carbono, cujos principais componentes são o efeito no clima e como essas mudanças afectam a economia em resultado do aumento do nível do mar e declínio na saúde humana e na produtividade laboral. O estudo focado no caso da Alemanha concluiu que o abandono da energia nuclear resultou num custo anual de aproximadamente US$ 12 mil milhões por ano. No mesmo estudo, os custos estimados da eliminação da energia nuclear excedem em muito as estimativas dos benefícios da desactivação do parque nuclear resultante das reduções no risco de acidentes nucleares e nos custos de descarte dos resíduos.

Quantas pessoas mais teriam morrido mundialmente no período de 1971 a 2009 se a energia nuclear tivesse sido substituída por combustíveis fósseis? Um estudo de 2013 estima dois milhões de vidas, estimando ainda que a energia nuclear evitou em média de 76.000 mortes por ano no período 2000-2009. Em relação aos custos sociais, o Governo americano considera um valor de 51$ por tonelada, mas um estudo recente publicado na conceituada revista Nature indica que esse valor deveria ser 185$ por tonelada. Pegando nos números da IEA, isto é, 63 Gt de CO2, tivemos um benefício resultante do uso da energia nuclear de 51 mil milhões ou 185 mil milhões de dólares, dependendo do valor que quisermos usar.

Nenhuma fonte de energia está livre de ter acidentes ou é completamente segura. Qualquer método de produção de electricidade pode causar grandes pressões ambientais ou sociais. Os argumentos contra a energia nuclear, enraizados na radiofobia, são passíveis de serem tecnicamente refutados. Não só a energia nuclear é uma arma de descarbonização maciça crucial na guerra contra as alterações climáticas como salvou e continuará a vidas ao substituir os combustíveis fósseis por uma solução mais limpa, evitando um número significativo de mortes prematuras.

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