A cimeira do clima e o desafio da energia

Em algum momento teremos que encarar a mudança, escolhendo a solução mais sustentável, ou seja, a produção de energia que não é baseada em combustíveis fósseis.

São cerca de 120 os chefes de Estado que vão participar na Cimeira do Clima 2014, a realizar no dia 23 de Setembro na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, com o objectivo de viabilizar um compromisso desejável para o combate às alterações climáticas. Vale a pena acalentar alguma expectativa.

É verdade que o contexto em que a cimeira ocorre é pouco auspicioso. As necessidades de energia no mundo não cessam de aumentar, em consequência do aumento da população mundial e de um maior consumo por indivíduo, tendência que também se verifica nos países mais pobres. Estima-se um aumento no consumo total médio de energia de cerca de 1,5% ao ano, evolução que ocorre com uma perda de qualidade da própria energia, ou seja, com um aumento significativo das emissões de CO2 (o uso de combustíveis fósseis aumenta a um ritmo de aproximadamente 2,5% ao ano). O carbono como fonte de energia primária não pára de crescer, em especial em países como a China e a Índia.

A este cenário global preocupante acresce o facto de mesmo os países mais industrializados e comprometidos com a redução do uso de combustíveis fósseis terem vindo a actuar de forma contrária. O Japão pós-Fukushima optou pelo encerramento das centrais nucleares em funcionamento, que proporcionavam 30% da electricidade do país, e retomaram os combustíveis fósseis, abandonando assim os objectivos fixados para a redução de emissões. A Alemanha, um dos países que têm impulsionado as energias alternativas no mundo, encerrou alguns reactores nucleares, e tem aumentado as emissões de carbono.

À escala global, admite-se que mais de 85% da energia primária comercial deriva de combustíveis fósseis, com as implicações políticas e sociais que  este número significa. Basta pensar nos países onde se situam as reservas principais, e na sua permanente instabilidade política. Por outro lado, estes combustíveis têm um fim inevitável, e a sua obtenção colocará dificuldades crescentes, envolvendo fortes impactos ambientais.

O CO2, emitido em consequência da utilização de combustíveis fósseis, é um gás com efeito de estufa, que modifica as condições atmosféricas e modifica a temperatura e outros fenómenos globais relacionados. Não existem hoje dúvidas sobre a relação entre o aumento de carbono na atmosfera e as actividades humanas, nem há contestação ao facto de os níveis de CO2 serem hoje superiores aos registados pelo menos no último meio milhão de anos de história do planeta, com um ritmo que se pode considerar imediato em termos geológicos. A consequência é o que se tem designado por alterações climáticas, mas o que importa perceber é de que modo este desenvolvimento se reflectirá nas sociedades à escala global. Justamente por ser global é que se torna mais complexa a abordagem ao problema, sendo indispensável comprometer o maior número possível de países na transição energética.

Em algum momento teremos que encarar a mudança, escolhendo a solução mais sustentável, ou seja, a produção de energia que não é baseada em combustíveis fósseis. Apesar desta inevitabilidade no horizonte, e do rigor crescente dos cenários que têm sido conhecidos, a verdade é que nos continuamos a afastar desse caminho.

Sabemos que os combustíveis fósseis estarão connosco por muito tempo, mas o que importa é reduzirmos progressivamente a sua preponderância, buscando soluções alternativas inteligentes e transformadoras, e que passam obrigatoriamente pela aposta nas energias renováveis. É evidente que um cenário em que só temos renováveis não acontecerá no curto ou médio prazo, mas é também por isso que importa incentivar as acções que nos permitirem atingir esse objectivo. O incentivo político às energias renováveis é essencial para patrocinar a transição energética, e é aqui que os compromissos globais podem fazer a diferença. A inovação tecnológica que este desígnio impõe permite-nos fazer um caminho responsável e determinado, para que a transição energética aconteça com a nossa colaboração consciente. Todos beneficiaremos com esta aposta: a indústria, a economia, o emprego e, seguramente, o planeta e o ambiente que queremos. Se não o fizermos desta forma organizada e cúmplice, acabaremos por fazê-lo por imposição. Um dia.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários