Cirurgia Plástica e Estética: Para todos, mas não por todos

A 7 de dezembro, assinala-se o Dia do Cirurgião Plástico. Neste dia é importante refletirmos acerca do enquadramento, necessidade e relevância desta especialidade no presente e no futuro.

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"Deveria haver uma regulamentação mais assertiva sobre os profissionais que podem realizar procedimentos estéticos" Paulo Pimenta/Arquivo

Planeta Terra, num futuro muito distante, a Cirurgia Plástica e Estética é uma necessidade essencial ao ser humano. A população tem uma esperança média de vida cada vez mais longa. Associado a essa longevidade existe uma procura crescente de procedimentos estéticos que permitem obter um aspeto físico condizente com o estado de espírito e vitalidade. Pelo menos foi isso que teorizou Robert Silverberg no seu livro Labirinto. Consequência dessa necessidade crescente observa-se uma massificação não regulamentada de profissionais não médicos que realizam procedimentos estéticos, que num futuro longínquo, podem trazer complicações severas para a população.

A Cirurgia Plástica moderna surgiu da necessidade de dar respostas às pessoas que sofreram deformidades grotescas durante a Primeira Guerra (1914 a 1918), e, desde aí, a especialidade tem vindo a evoluir de uma forma exponencial, abrangendo também outras necessidades. Não é matéria de opinião, é saúde: apenas profissionais formados e devidamente qualificados na especialidade médico-cirúrgica de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética possuem no seu arsenal terapêutico as competências necessárias para a realização da grande maioria de procedimentos estéticos e cirúrgicos, e por outro lado, dar o suporte necessário caso ocorra alguma intercorrência. Um conselho prático que posso dar a todos os leitores é: antes de realizarem um procedimento deste cariz, confiram se o profissional em questão está registado na Ordem dos Médicos.

Planeta Terra, ano 2022, neste momento existem necessidades que até há alguns anos eram consideradas desnecessárias. Neste contexto, o âmbito da Cirurgia Plástica inclui, mas ultrapassa em grande escala, a área da cirurgia estética: desde a reconstrução de várias áreas corporais como a face, a mama ou os membros, ao tratamento de doenças da mão, alterações genitais ou malformações congénitas. A abordagem que é dada a essas patologias alia as duas componentes da Cirurgia Plástica: a reconstrução funcional e a melhoria estética. Exemplo disso é a cirurgia de reconstrução mamária, no contexto de doença oncológica da mama.

Se há 30 anos a mulher não teria outra alternativa a não ser aprender a viver com a amputação de uma mama, atualmente, com esta mudança de paradigma, sabemos que o tratamento de um cancro da mama só termina completamente quando o órgão é "restituído". Outro exemplo desta abordagem dupla, estética e funcional, é o tratamento do excesso de pele das pálpebras, blefaroplastia, que, para além de ser um sinal de envelhecimento, pode comprometer a visão.

Ao longo dos anos, tem-se vindo a desmistificar o enquadramento e os propósitos da Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética. No entanto, como cirurgião plástico, sinto que ainda há muito trabalho a fazer nesse sentido.

Nesta atualidade, é frequente sermos confrontados com notícias de procedimentos cirúrgicos e estéticos realizados por pessoas que não estão devidamente qualificadas para a sua realização. A qualificação e a formação dos profissionais são os pilares sobre os quais estes procedimentos, com diferentes graus de complexidade, são bem-sucedidos e, idealmente, decorrem sem complicações. Nesse sentido, considero que deveria haver uma regulamentação mais assertiva sobre os profissionais que podem realizar procedimentos estéticos. Assim, reforço positivamente a intenção demonstrada pela Ordem dos Médicos (maio de 2022), em criar normas que visem regular a Medicina Estética em Portugal.

Felizmente, existem no nosso país cada vez mais instituições focadas na qualidade e rigor dos seus procedimentos. Na qualidade de cirurgião plástico tenho uma preocupação acrescida com as complicações que recebo de casos que não correram bem, a grande maioria deles realizados por profissionais não qualificados. Os doentes chegam-nos muito arrependidos e o trauma muitas vezes é físico e psicológico. Por muito pequeno que seja o procedimento, este nunca deve ser desvalorizado. O doente tem que sentir-se seguro e saber que está em boas mãos, e que está a ser tratado por uma equipa experiente, com princípios de ética e com estrutura para resolver todo o tipo de complicações que possam surgir.

Planeta Terra, talvez num futuro não tão distante que, embora distópico, resulta da perspetiva de uma vida mais longa e vivida com maior qualidade e de forma mais ativa. É este o meu papel. É também este o papel da Cirurgia Plástica, Estética e Reconstrutiva do presente e do futuro.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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