Alemanha x Hungria 1954: O milagre de Berna

A história de um jogo entre uma nação que ainda recuperava do regime nazi, frente àquela que era considerada a melhor equipa do mundo. Só um milagre poderia alterar o previsível desfecho.

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Jogadores da Alemanha celebram a primeira conquista de sempre do país de um Mundial. FIFA

Nove anos não foram suficientes para que a Alemanha ultrapassasse os problemas sociais e​ económicos que o regime nazi deixara no país. Para além disso, em 1949, o país fora dividido em dois e a nação que participara no Mundial de 1954, na Suíça, era agora designada de República Federal da Alemanha. Por isso, o facto de a equipa sequer chegar ao Mundial já era louvável.

A Hungria também não estava imune a questões políticas relevantes – após a Segunda Guerra Mundial, fora integrada na União Soviética que, à altura do Mundial, ainda passava pelo período de luto da morte de Estaline, no ano anterior. Ainda assim, a selecção magiar vinha de uma série de 32 jogos sem perder, na qual se incluíam uma vitória retumbante sobre a Inglaterra, em Wembley, por 3-6, e a conquista da medalha de ouro no Jogos Olímpicos de 1952.

Sorteadas no mesmo grupo, Hungria e Alemanha disputaram um encontro que terminou numa goleada histórica: 8-3 para a equipa onde pontificavam os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”: Puskas, Kocsis (o melhor marcador do torneio, com 11 golos), Hidegkuti e Czibor. O número de 11 golos para um jogo é elevado, mas não neste Mundial, que ainda hoje é a edição do torneio com a maior média de golos marcados por jogo: 5,38. Para comparação, a do Mundial de 2018 foi de 2,64 (menos de metade).

A Hungria chegaria à final de Berna com um registo impressionante de 25 golos marcados em apenas quatro jogos. Já a Alemanha, que disputara uma partida a mais para carimbar a passagem da fase-de-grupos, atingia o mesmo destino em boa forma, após vencer a Áustria, nas meias-finais, por 6-1.

Tendo em conta a diferença de qualidade entre as duas equipas e a goleada imposta pelos magiares apenas duas semanas antes, o favoritismo estava do lado húngaro. No entanto, a Alemanha, imagem da solidez defensiva e do pragmatismo exibicional, tinha dois aliados do seu lado: a chuva do dia da final e as chuteiras.

Manufacturadas por Adi Dassler, que fundara a Adidas cinco anos antes, as chuteiras dos alemães possuíam uma tecnologia que permitia colocar ou remover os pitons de acordo com o terreno. Com a chuva, o técnico germânico Sepp Herberger decidiu que os seus jogadores deviam jogar com os pitons.

Tal não facilitou a tarefa à equipa, que se viu a perder por 0-2 logo aos oito minutos, cortesia de Puskás e de Czibor. A “Equipa d’Ouro”, como era conhecida, caminhava para a esperada conquista do Mundial. Nada fazia prever que os alemães respondessem em menos de dez minutos…

Com alguma sorte à mistura, Morlock reduziu o marcador aos 10 minutos e pouco depois, Rahm chegou ao empate. Até ao final do jogo, os húngaros foram incansáveis na sua busca pelo golo, mas as suas intenções esbarraram no poste, na trave, num corte de Kolhmeyer em cima da linha de golo e na brilhante exibição do guardião teutónico Turek.

Até que aos 84 minutos, numa brilhante jogada individual, Rahm bisou e fez o 3-2 no marcador. Depois, os húngaros ainda marcariam um golo irregular e assim a Alemanha conquistou o primeiro de quatro Mundiais. Já a Hungria nunca mais, sequer, se aproximou de tamanha glória.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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