Covid: Macau a braços com problemas de saúde mental e sem profissionais para lidar com eles

Governo local admite “falta de psicólogos, psiquiatras ou até conselheiros”. Kwok Wai Tak, chefe substituto da Psiquiatria do hospital público de Macau, no Parlamento, diz que os suicídios aumentaram.

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Uma das medidas adoptadas em Macau para combater a covid é a testagem em massa Reuters/STRINGER

Os problemas de saúde mental aprofundaram-se em Macau com as políticas restritivas por causa da política de covid zero adoptada pelas autoridades chinesas desde o início da pandemia. Com a falta de profissionais para ajudar, a Região Administrativa Especial vê-se a braços com a subida do número de suicídios.

“Devido à pandemia e esta situação, muitas pessoas não podem sair de casa, estão em quarentena – estão presos, entre aspas, em casa”, explicou Kwok Wai Tak, chefe substituto dos Serviços de Psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário, hospital público de Macau. “Não são só idosos, mas também os jovens” a ficar isolados, sem emprego, sem ajuda, a lidar com os seus problemas sem ninguém com quem falar. Numa “situação oculta”, como disse o especialista, interpelado pelo deputado José Pereira Coutinho na assembleia legislativa.

De acordo com o deputado, escreve a Lusa, Macau chegou a 65 suicídios desde o início do ano, número que já supera o total de todo o ano passado. “A qualidade de vida da maioria dos residentes piorou, devido às medidas de isolamento social internas e externas, resultando no aumento do desemprego e suicídios.”

“São todas essas razões que resultam em problemas de saúde mental, dando lugar assim ao aumento de casos de suicídio”, disse Kwok Wai Tak, citado pela Lusa.

O território, que registou desde o início da pandemia seis mortes e mais de 2.700 casos, implementou medidas de prevenção mais rígidas do que a vizinha Hong Kong, com mais de dois milhões de infecções e 10.806 mortes, de acordo com dados divulgados pela Universidade Johns Hopkins.

No debate desta segunda-feira, o Governo admitiu a “falta de psicólogos, psiquiatras ou até conselheiros” em Macau. E mais: “Os trabalhadores da área da saúde mental já têm uma certa idade e, muito provavelmente em breve trecho, vamos ver uma grande saída de trabalhadores dessa área devido à aposentação”, disse Kwok Wai Tak.

“Já cheguei a discutir com o director e outros responsáveis por forma a recrutar mais trabalhadores para a área da saúde mental e estamos agora a envidar todos os esforços esperando trazer boas noticias muito em breve”, completou.

Durante o debate, outros deputados mostraram-se preocupados com o agravamento da taxa de suicídios. Angela Leong On Kei perguntou ao executivo de Macau se vai “melhorar os actuais sistemas ou mecanismos no sentido de melhor proteger a saúde mental dos residentes”.

Enquanto Leong Sun Iok lembrou o Governo que, para os “empregados de idade média avançada é difícil encontrar trabalho no mercado”, e que os “trabalhadores que foram despedidos por empresas de grande envergadura não conseguem ser contratados pelo mesmo sector”.

O deputado Kou Kam Fai, classificando esta como uma “matéria de preocupação”, lembrou que “no inicio do ano lectivo houve vários casos de tentativas de suicídio de alunos”

Macau segue a política chinesa de covid zero, apostando em testagens em massa, confinamentos de zonas de risco e quarentenas de cinco dias para quem chega ao território – com excepção de quem vem da China continental.

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