Primeiros balanços oficiais de mortes nos protestos do Irão: “talvez 300”, talvez 200

Segundo um site iraniano, um boletim confidencial do regime diz que “o número de mortos é maior do que nos protestos de Novembro de 2019”, quando morream pelo menos 1500 pessoas em dias.

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Uma mulher grita o nome das crianças mortas pelo regime durante um protesto diante da delegação da UNICEF, em São Francisco AMY OSBORNE/Reuters

Dois meses e meio depois do início das manifestações anti-regime, o Governo iraniano decidiu avançar com as suas primeiras estimativas de mortes na contestação. Mas não parece saber o número de vítimas, nem exacto nem aproximado. Este sábado, a agência de notícias Mizan (ligada ao poder judicial) citou o primeiro balanço do Ministério do Interior, segundo qual 200 pessoas perderam a vida nos “motins”. O problema é que este balanço desmente as declarações do brigadeiro-general Amirali Hajizadeh, comandante da Força Aerospacial dos Guardas da Revolução, que falara antes em “talvez mais de 300 mártires e pessoas mortas”.

É certo que Hajizadeh não deu dados muito precisos, mas não deixa de ser estranho que um organismo oficial da República Islâmica e um importante responsável da poderosa força de elite (próxima do supremo líder, o ayatollah Ali Khamenei) avancem com números tão díspares com um intervalo de poucos dias – principalmente tendo em conta que o regime levou tanto tempo a referir qualquer número de vítimas.

De acordo com o Conselho de Segurança de Estado, que pertence ao Ministério do Interior, entre os 200 mortos estão forças de segurança, vítimas de “actos de terrorismo” e vítimas de grupos ligados ao estrangeiro (apresentadas, “falsamente”, como mortas pelo Estado), “agitadores” e “elementos anti-revolucionários armados que eram membros de grupos secessionistas” (será uma referência aos curdos iranianos, que têm sido dos mais castigados pela repressão). A expressão “manifestantes pacíficos” não aparece, mas há uma referência a “pessoas inocentes que morreram em condições de desordem de segurança”.

No vídeo em que se refere às vítimas, Hajizadeh diz que entre os mortos estão alguns dos “melhores filhos” do Irão, acrescentando que “todos no país foram afectados pela morte” de Jina Mahsa Amini, a jovem curda de 22 anos detida a 13 de Setembro pela “polícia da moralidade” por uso incorrecto do obrigatório hijab (lenço islâmico), que entrou em coma horas depois e morreu no dia 16.

Tendo em conta anteriores protestos, a admissão de 200 ou 300 mortes significará que o Estado sabe que são muitas mais. De acordo com o jornal online IranWire, a agência de notícias Fars (associada aos Guardas da Revolução) terá publicado um boletim confidencial onde se afirma que “o número de pessoas mortas nestas manifestações é maior do que o dos mortos dos protestos de Novembro de 2019” a agência Reuters confirmou pelo menos 1500 mortos em poucos dias e a ONG Iran Human Rights concluiu que foram pelo menos 3000 depois de uma longa investigação.

O último balanço dos actuais protestos feito pela Iran Human Rights, na quarta-feira, era de 448 mortes (confirmadas por várias fontes e provas documentais), enquanto a agência de notícias Human Rights Activists afirmou na sexta-feira que já foram mortos 469 manifestantes, incluindo 64 menores, para além de 61 membros das forças de segurança governamentais.

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