ONU diz que é preciso investir 384 mil milhões de dólares na natureza até 2025

Há que duplicar o financiamento de soluções inspiradas na natureza para travar a perda de biodiversidade, diz Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Este será um tema da COP15, em Montreal.

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As metas para salvaguardar a biodiversidade não têm sido cumpridas Nuno Ferreira Santos/ARQUIVO

É preciso que o financiamento em soluções inspiradas na natureza mais do duplique até 2025, para que seja possível alcançar os objectivos de protecção dos ecossistemas e da biodiversidade das alterações climáticas e da degradação dos solos, diz um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) divulgado nesta quinta-feira.

Actualmente, são investidos 154 mil milhões de dólares todos os anos, sobretudo pelos governos, em acções para proteger e gerir melhor cursos de água, terrenos, o ar que respiramos e a vida selvagem, em soluções que se inspiram na natureza, usam ou imitam processos naturais. O que o relatório Estado do Financiamento para a Natureza 2022 diz é que é preciso que esse valor suba para 384 mil milhões de dólares por ano até 2025, para conseguirmos lutar contra as ameaças que vêm no encalço das alterações climáticas e da perda de recursos naturais.

Este cálculo vai ser um dos temas em debate na segunda parte da 15.ª Cimeira da Convenção-Quadro da Diversidade Biológica (ou Biodiversidade), denominada COP15, que se inicia na próxima semana em Montreal, no Canadá. Naquele fórum, os países signatários desta Convenção, saída da Cimeira do Rio de Janeiro de 1992, tal como a das Alterações Climáticas e da Desertificação, vão tentar chegar a um acordo para travar a perda da biodiversidade até 2030 e permitir a recuperação dos ecossistemas até 2050.

Mais de uma centena de países assinaram no ano passado, na primeira parte da COP15 (que decorreu de forma virtual, mas deveria ter sido acolhida na cidade chinesa de Kunming), uma declaração em que prometeram trabalhar para conseguir proteger melhor a biodiversidade. Mas não conseguiram chegar a acordo sobre vários temas, incluindo o financiamento da conservação da natureza nos países em desenvolvimento, que serão discutidos agora em Montreal.

Em Aichi, no Japão, em 2010, foram estabelecidas metas para tentar travar a perda de biodiversidade, mas essas metas não foram cumpridas, o que mostra a dificuldade de obter acordos e de pô-los em prática nesta área.

Apelo ao investimento privado

Os governos garantem actualmente 83% dos fluxos financeiros que sustentam as soluções baseadas na natureza mas, diz o comunicado de imprensa que acompanha a divulgação do relatório, “é improvável que esses fluxos aumentem, devido a problemas orçamentais relacionados com conflitos, dívida e pobreza”. O apelo que faz o PNUA, portanto, é ao sector privado, para que aumente de “forma significativa o seu investimento, que, neste momento é de 26 mil milhões de dólares anuais, ou 17% do total”.

É preciso investir em cadeias de abastecimento sustentáveis, reduzir actividades com impactos negativos nas alterações climáticas e na biodiversidade, pagar pelos serviços dos ecossistemas que as empresas usam, investir em actividades que sejam positivas para a natureza e compensar os impactos inevitáveis através de mercados de natureza, equivalentes aos mercados do carbono, mas que garantam a sua integridade, sugere o PNUA.

“Cerca de 50% do Produto Interno Bruto [PIB] mundial depende de existirem ecossistemas saudáveis e a funcionar bem, por isso não deveria ser uma escolha muito difícil, apesar de estarmos a passar por múltiplas crises”, como a guerra na Ucrânia e a subida da inflação, disse Ivo Mulder, responsável pela unidade de finanças do clima do PNUA, citado pela Reuters.

Outro ponto sublinhado pelo relatório é que os governos mundiais continuam a gastar entre 500 mil milhões a um bilião de dólares por ano em subsídios para actividades como a pesca, a agricultura e os combustíveis fósseis que têm efeitos destrutivos para a biodiversidade.

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