Historiador Timothy Snyder organiza recolha de fundos para ajudar defesa ucraniana

Os sistemas antidrones Shahed Hunters conseguem detectar dispositivos inimigos e enviar sinais de interferência, com o objectivo de destruir estes dispositivos no céu.

Foto
Timothy Snyder Frauemacht

O historiador e professor em Yale Timothy Snyder está a organizar uma recolha de fundos para ajudar a comprar sistemas de defesa antidrones para a Ucrânia – baptizados Shahed Hunters​ ou caçadores de Shahed, o nome dado aos drones de fabrico iraniano que estão a ser usados pela Rússia na guerra.

“Sou um historiador e um académico e, a longo prazo, quero juntar dinheiro para reconstruir bibliotecas, escolas e universidades. Mas, agora, temos de fazer o que é mais urgente, que é angariar dinheiro para ajudar a Ucrânia a defender-se destes drones assassinos”, lê-se na página do crowdfunding.

Estes sistemas antidrones, os Shahed Hunters​, conseguem detectar dispositivos inimigos e enviar sinais de interferência, com o objectivo de destruir estes dispositivos no céu.

Quando o professor foi desafiado pelo Governo ucraniano a organizar uma recolha de fundos para ajudar no esforço de guerra, o seu primeiro pensamento foi ajudar a reconstruir a biblioteca de Chernihiv, destruída pelos russos em Março, confessa numa entrevista ao diário britânico The Guardian.

Depois de perguntar a Kiev o que era mais urgente, a resposta foi “sistemas de defesa antidrones” e foi assim que nasceu esta recolha de fundos. “As ruínas da biblioteca ainda vão lá estar, posso juntar fundos para isso depois, o que está a acontecer agora é que os russos estão a tentar congelar milhões de pessoas ao destruírem a sua rede eléctrica. Então, o que eu devia fazer é tentar parar isso”, afirma na mesma entrevista.

O autor de O Caminho para o Fim da Liberdade vai tentar angariar mais de um milhão de dólares para financiar esse sistema antidrones. A campanha já conta com “muitas pequenas doações”: a 25 de Novembro, já tinha conseguido 271 mil dólares.

O académico é especialista no Leste da Europa, com vários livros editados sobre o tema. Desde o início da guerra na Ucrânia, disponibilizou, de forma gratuita, o curso sobre história da Ucrânia que lecciona em Yale — e já mais de 921 mil pessoas viram a primeira aula.

“Tinha ideia de que não havia conhecimento extenso suficiente sobre a história da Ucrânia”, afirma. O que torna difícil desconstruir as mentiras veiculadas pelo Kremlin. “Quando respondemos directamente a propaganda – e às vezes temos de o fazer – entra-se numa espécie de uma dança desconfortável com os propagandistas. É muito melhor preencher o espaço com História, especialmente porque a História da Ucrânia é muito mais interessante do que a propaganda a respeito.”

Foto
Um dos drones usado num ataque a Kiev EPA/SERGEY SHESTAK

Actualmente, Snyder é um dos 200 norte-americanos proibidos de visitar a Rússia. “A resposta mais normal é ‘Oh, lá se foram as minhas férias na Sibéria’, mas não olho para isso dessa forma”, afirma. Diz que ainda que espera visitar o país um dia, para estudar os arquivos, mas espera encontrar-se com uma Rússia diferente.

Porém, isso só é possível se a Rússia perder a guerra. “A Rússia ganha ao perder. A Rússia precisa mesmo de perder esta guerra e de perder de forma decisiva”, disse. “A jogada colonial contra a Ucrânia é uma distracção, um substituto das mudanças internas que a Rússia tem de fazer.”

Também seria bom para a paz mundial se a Rússia perdesse, pois enviaria uma mensagem a outros poderes com intenções semelhantes, como a China: “Faz com que seja menos provável que a China tente algo aventureiro no Taiwan.”

As negociações entre a Ucrânia e a Rússia – tão desejadas por vários países ocidentais – só terão algum significado depois de Kiev ganhar a guerra, afirma Snyder: é “senso comum”. “Se querem negociações de forma mais rápida então têm de ajudar os ucranianos a ganhar de forma mais rápida, por exemplo, dando-lhes armas de longo alcance.”

Sugerir correcção
Ler 8 comentários