Educar para o sucesso ou para a felicidade?

O que significa “sucesso” pode tomar apresentações diferentes para cada um de nós e não raras vezes tem a ver com aquilo que cada um valoriza.

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"Não conseguimos educar para o sucesso somando horas de ensino" Nelson Garrido/Arquivo

Educamos para o sucesso. Esta é talvez a premissa mais querida pelos pais quando procuram uma escola para os seus filhos. E é também aquele motto que alguns colégios apresentam quando falam dos seus objetivos académicos. Depois vêm os rankings para confirmar ou não esse mesmo ensino para o sucesso.

Vale a pena reflectir um pouco o que pode encerrar em si mesmo esta intenção de “educar para o sucesso”. O que significa “sucesso” pode tomar apresentações diferentes para cada um de nós e não raras vezes tem a ver com aquilo que cada um valoriza e sente que pode ser potenciador de uma vida desafogada e feliz. Por uma vida desafogada entende-se economicamente estável e que permita viver sem pensar muito nas contas do dia-a-dia. Por feliz entende-se uma vida que nos traga alguns desafios aliciantes, que nos façam sentir bem e onde consigamos ser bem-sucedidos, seja na vida pessoal ou profissional.

Mesmo o chavão de “educamos para o sucesso” convém saber o que entende a escola por “sucesso”. O sucesso académico é importante e determinante em qualquer escola, mas não a qualquer preço. Hoje em dia, sabemos que a felicidade e o bem-estar andam de mãos dadas com o sucesso académico e profissional. E que sucesso gera sucesso: é uma roda dentada que uma vez a funcionar bem, é difícil parar.

O sucesso académico pode não ser sinal de estudar muitas horas por dia, mas antes de ter uma educação completa e integral, com desafios concretizáveis e alcançáveis pelos alunos e pelos professores, onde os bons resultados sejam possíveis. E ir subindo a escada que pode ser em espiral ou retilínea. Ou seja, aumentando a complexidade de cada área ou diversificando áreas de saber onde a curiosidade e o espírito crítico estão sempre presentes.

Não conseguimos educar para o sucesso somando horas de ensino, mas proporcionando uma aprendizagem significativa para os alunos, que lhes faça sentido e lhes traga satisfação, pois só assim eles investirão, por sua iniciativa, nas horas de estudo, e também nas horas das outras atividades que potenciam um bom estudo, e a aquisição de conhecimentos e competências.

Em contrapartida, temos escolas que educam para que os alunos sejam felizes. É fofinho. Mas será mesmo isto que querem dizer? Soa a algum tipo de redoma onde nenhum problema, desafio ou intercorrência possa beliscar a felicidade cor de rosa dos que por lá habitam.

O que será que significa essa educação para a felicidade? Qual a filosofia educativa que está na base e que currículo e estratégias a põem de pé? Será que são as mesmas do “educar para o sucesso”?

O sucesso é também portador de felicidade. A questão está mesmo no objetivo principal e no que fazemos para o alcançar, ou seja, que degraus da escada queremos percorrer e como.

O modo como se educa faz toda a diferença, pois na maioria das vezes os desafios estão lá, o que faz a diferença é a maneira como os abordamos. Por exemplo: como é gerida a frustração, um resultado menos bom? Com objetividade, percebendo o que esteve na sua origem e estabelecendo um plano de ação, ou fazendo todos os possíveis por contornar, baixar o nível e transformar esse mau resultado num aparente sucesso? Quais as consequências de cada uma destas atitudes?

Mais do que educamos para ‘isto’ ou para ‘aquilo’, importa perceber o que está por de trás disso, ou seja, o como é que isso é feito, a tal filosofia educativa; o quando, ou seja, em que etapas do desenvolvimento é feito; com quem é feito, se é um trabalho de equipa, escola e família, com perspetiva de progressão, ou de um ator só; e para quê, ou seja, qual é na verdade, o que está em causa e queremos alcançar porque estamos convencidos que é o melhor que podemos fazer pelas crianças e jovens que temos entre mãos.

Educar para o sucesso ou para a felicidade não será muito diferente, depende da ordem das premissas, da importância que lhes damos e do ponto de vista por onde as olhamos.

Tenham sucesso e sejam felizes!


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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