A Guerra Prometida dá a Marco Pacheco Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís

Romance venceu por unanimidade e reflecte o período de transição do século XIX para o século XX até à I Grande Guerra Mundial.

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Marco Pacheco dr

Marco Pacheco, com o romance A guerra prometida, venceu “por unanimidade” o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, no valor pecuniário de 10 mil euros, disse à agência Lusa fonte da Estoril Sol.

O Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís foi instituído em 2008 pela Estoril Sol em parceria com a Editorial Gradiva, e visa distinguir, anualmente, um romance inédito em língua portuguesa, que é posteriormente publicado.

O júri, que foi presidido por Guilherme d'Oliveira Martins, do Centro Nacional de Cultura, afirmou em acta que A guerra prometida é “um romance que, partindo da inovadora acção empresarial e social de Francisco Grandella [1853-1934], constrói uma estória familiar e pessoal de grande alcance humano. O período de transição do século XIX para o século XX até à I Grande Guerra Mundial [1914-1918] é sinalizado por situações de pobreza que vão determinar a evolução do protagonista”.

De acordo ainda a acta, citada pela Estoril Sol, o romance “é não só de época, mas, também, de significado psicológico e social”, recorrendo a uma linguagem que está “num nível criativo que, associada à original estrutura narrativa de quatro partes, dá a esta obra um protagonismo literário assinalável do que poderá ser considerado um novo realismo”.

Marco Pacheco, 48 anos, é director criativo e executivo da agência de publicidade BBDO, e sobre si afirma ser um “açoriano de várias ilhas”, explicando: “Nasci em São Jorge poucos meses depois do 25 de Abril [de 1974], mas vivi também na Terceira e em São Miguel, antes de ir estudar para Lisboa, onde vivo hoje”.

A vontade de contar histórias suas justifica esta aventura na ficção. “No meu trabalho, as histórias que conto não são minhas, são dos anunciantes, e eu tenho muitas que eles jamais comprariam”, cita a mesma fonte.

Sobre as suas influências literárias, Marco Pacheco afirmou que “foram mudando com a idade”. "Foi já no final da faculdade que comecei a descobrir Mário de Carvalho, António Lobo Antunes, Raul Brandão, Hemingway, Proust, Almeida Faria, Agustina Bessa-Luís, Coetzee, Faulkner, Machado de Assis, Jorge Luís Borges, Don DeLillo e muitos outros que fizeram de mim leitor e, quem sabe, um dia escritor”, afirmou.

Sobre A guerra prometida, Marco Pacheco referiu que se encontram no romance “alguns assuntos que, em graus diferentes, [o] fascinam: a temeridade da adolescência, a fé (mais ou menos religiosa) e, sobretudo, a morte”.

“A morte não apenas como fatalidade, mistério ou escapatória, mas também como objectivo, como ideal, como redenção. Uma ideia muito cristã e um pouco radical que precisava de uma época também ela de radicalismos, como foi a da Primeira República Portuguesa”.

Para o autor, a Primeira República (1910-1926) é um período onde encontrou “os extremismos políticos e religiosos (entre monárquicos e republicanos), mas também o optimismo (da chegada da República) e o medo (da Primeira Grande Guerra)” que o “ajudaram a construir e a justificar a história de um rapaz com obsessões e sonhos um pouco mais estranhos do que o habitual para a sua idade”.

“Outra razão para escolher um período histórico sobre o qual nada sabia foi a minha vontade (quiçá juvenil) de contrariar o conselho que mais ouvi enquanto romancista aspirante: escreve sobre o que sabes”.

O júri da edição deste ano do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís foi presidido por Guilherme d'Oliveira Martins e também constituído por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, ainda, pelos escritores José Carlos de Vasconcelos, também jornalista, director do Jornal de Letras, Liberto Cruz e Ana Paula Laborinho, directora da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura em Portugal, convidados a título individual, e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.

No ano passado, o galardão distinguiu o romance Terrinhas, de Catarina Gomes.

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