Mais do que as eleições, será a inovação a estreitar as ligações Portugal-Brasil

Temos assistido a um movimento muito forte de chegada de start-ups brasileiras, de empresas maduras de base tecnológica e de instituições que estão a criar pólos em cidades portuguesas.

Os efeitos dos resultados das eleições brasileiras nos negócios entre Portugal e o Brasil não serão visíveis no curto prazo. É expectável que haja sinais positivos nas relações entre os dois Estados, que poderão chamar um pouco mais a atenção dos empresários para as oportunidades existentes, mas o impacto não se prevê que seja significativo por esta via. Por um lado, porque se espera a manutenção de uma política protecionista do mercado brasileiro; por outro, porque ainda está muito por clarificar em termos de política económica e de posicionamento geopolítico do Brasil.

Os aspetos mais importantes, por enquanto, são a estabilidade e confiança que o fim do processo pode trazer aos mercados (sendo que a expectativa quanto aos nomes do elenco governativo também pode causar alguma perturbação), os sinais de que a economia deverá crescer mais do que o que estava estimado no início do ano, bem como uma eventual retoma de financiamentos e investimento estrangeiro, por exemplo, na proteção ambiental.

A posição do Brasil como destino das exportações portuguesas tem sido estável, oscilando entre o 10.º e o 13.º lugar nos últimos dez anos. No ano passado, Portugal exportou cerca de 700 milhões de euros para o Brasil, sendo mais de metade produtos do setor agroalimentar (com o azeite a representar um terço das exportações). Fora deste setor, destacam-se os componentes para aviões e helicópteros, com 65 milhões de euros. Um crescimento da economia brasileira pode aumentar as importações com origem em Portugal, mas, mais uma vez, não será necessariamente uma consequência direta do resultado das eleições.

No entanto, chamava a atenção para algo que poderá realmente aproximar os empresários dos dois países e constituir uma oportunidade para ambos os mercados: o ecossistema de inovação. Nos últimos anos, assistimos a um movimento muito forte de chegada a Portugal de start-ups brasileiras para um “soft landing” na Europa, de empresas maduras de base tecnológica que escolheram Portugal como a base para aceleração e abordagem do mercado europeu e de instituições que estão a criar pólos de desenvolvimento em cidades portuguesas e que acolherão quadros brasileiros. Esta tendência pode ser extremamente vantajosa para as empresas portuguesas que, em conjunto com as empresas brasileiras, desenvolvam soluções e abordem mercados internacionais, não só na Europa, mas também no próprio Brasil, noutros países da América Latina e nos EUA.

Mas, mais uma vez, este era um movimento que já estava a verificar-se. Mesmo um eventual aumento, no curto prazo, do número de brasileiros a chegar a Portugal também será por uma conjugação de fatores, como o visto para empreendedores.

A distância entre Brasil e Portugal ainda é grande (mesmo em termos culturais), mas está a encurtar. Há muitas empresas portuguesas bem-sucedidas no mercado brasileiro, sobretudo as que trabalham de perto com os seus clientes, importadores e parceiros. A imagem de Portugal no Brasil está, hoje, associada a um país muito mais sofisticado. As empresas brasileiras estão a instalar-se em Portugal, em setores de elevada tecnologia, inovação e valor acrescentado e a criar laços com as empresas locais. Muitos dos brasileiros que chegam a Portugal – e que estudam nas nossas escolas de negócios – estão muito bem preparados, com formação prévia em boas escolas brasileiras e norte-americanas e trazem na bagagem a vontade de investir e criar negócios. Mas parece-me que tudo isto está (e deverá manter-se) para além das eleições.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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