Lisboa é desafiada a criar superbairros com ruas cedidas aos moradores

Há conversações com duas freguesias de Lisboa para concretizar a proposta de restrição da circulação automóvel dentro de bairros para aumentar o espaço pedonal.

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No mês de Setembro, Lisboa teve um superbairro no centro histórico da cidade por um dia JAN KAMENSKY

As associações Lisboa Possível e Zero querem criar superbairros em Lisboa e têm apresentado o projecto a freguesias da capital portuguesa, propondo restringir a circulação automóvel dentro de bairros para criar mais espaço pedonal.

Os promotores alertam que as ruas estão “poluídas e barulhentas” por causa dos carros, o que tornou a cidade “inóspita”, e querem ceder as estradas dos bairros aos moradores.

“Vamos caminhar sem medo, brincar na rua, conversar, ouvir música ou simplesmente o silêncio, pedalar, desfrutar das esplanadas e respirar bem”, propõe a Lisboa Possível, na informação divulgada sobre o projecto.

O conceito dos superbairros é inspirado na visão de Ton Salvadó, antigo director do planeamento urbano do município de Barcelona (Espanha), onde esta ideia foi implementada a partir de 2016 em vários quarteirões.

O município catalão descreve no seu website um futuro com “uma rede de praças e centros verdes onde os peões têm prioridade”, com o tráfego desviado para estradas fora do bairro e em que apenas entram e saem veículos de moradores e comerciantes.

A representante da Lisboa Possível, Ksenia Ashrafullina, explicou à agência Lusa que actualmente há conversações com duas freguesias de Lisboa para concretizar a proposta, depois de terem tentado implementar um superbairro na Misericórdia.

A proposta era, em colaboração com esta Junta de Freguesia, fechar por um dia o trânsito das ruas à volta da Praça das Flores, de forma a mostrar o conceito, enquanto decorriam várias actividades ambientais e culturais.

A iniciativa estava apontada para o dia 23 de Setembro, mas a Câmara de Lisboa autorizou o evento para a véspera para se realizar na Semana Europeia de Mobilidade, não deixando a autarquia de referir, numa resposta escrita à Lusa, as “dificuldades que tal pedido iria trazer ao trânsito local por se tratar de um dia de semana”.

Era necessário o aval da Polícia Municipal para encerrar o trânsito e, perante a demora na autorização, a organização decidiu adiar o superbairro para 29 de Outubro e realizou no dia 22 de Setembro uma “conversa entre vizinhos”.

Nesse evento, moradores e comerciantes falaram na Praça das Flores dos problemas do bairro, assim como de potenciais soluções, surgindo pedidos como passeios maiores, locais para parar trotinetes e bicicletas, mais autocarros, parques de estacionamento para moradores e restrições ao trânsito.

A Lisboa Possível disse que depois de realizada esta conversa a Junta da Misericórdia não comunicou com a associação durante duas semanas e acusou esta autarquia de “censura”, por lhe ter pedido que apagasse conteúdos publicados na Internet sobre a iniciativa. A associação acabou por “perder a confiança” para realizar o projecto nesta freguesia.

Questionada pela Lusa, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS), respondeu que “não pode assumir publicamente uma iniciativa sem ter a autorização da Câmara Municipal de Lisboa” e que os promotores só podem “divulgar uma iniciativa quando está preparada”.

A Lisboa Possível disse que esperava que a junta enviasse ao município o pedido para o superbairro ser executado no dia 29 de Outubro. A Câmara de Lisboa respondeu à Lusa que “não existe na Divisão de Processos de Mobilidade registo de qualquer entrada de pedido de condicionamento na freguesia da Misericórdia” para este dia.

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